quarta-feira, 31 de março de 2010

Alteração de atividade cerebral modifica julgamento moral

31/03/2010 - 11h39

Alteração de atividade cerebral modifica julgamento moral, diz estudo

da France Presse, em Washington
O julgamento moral das pessoas pode ser alterado, a partir da afetação no funcionamento de uma parte do cérebro, revela um estudo publicado na edição da revista "Proceedings of the National Academy of Sciences" desta semana.
Cientistas do MIT (Massachusetts Institute of Technology) interromperam a atividade na junção temporo-parietal, uma área do cérebro situada acima e atrás do ouvido direito, e que é normalmente ativada quando pensamos no resultado futuro de um ato em particular.

Damian Dovarganes -1º.dez.08/AP
Julgamento moral das pessoas pode ser alterado, a partir da afetação no funcionamento de parte do cérebro, revela estudo

Os pesquisadores usaram um campo magnético aplicado no couro cabeludo para produzir uma corrente nesta área do cérebro, e pediram aos voluntários da pesquisa para que lessem uma série de situações relativas a questões morais.
Café envenenado
Em uma delas, uma pessoa chamada Grace e uma amiga dela visitam uma indústria química, quando Grace para em frente à máquina de café.
A amiga pede que Grace leve café com açúcar para ela. Um recipiente ao lado da máquina de café, com a inscrição "tóxico", contém açúcar comum --mas Grace não sabe disso. Na verdade, ela acredita que o pó branco no recipiente é uma substância tóxica, mas mesmo assim a coloca no café que levará à amiga. Apesar disso, a amiga não sofre qualquer problema de saúde porque o pó de fato era açúcar.
Os cientistas, então, pediram aos voluntários que avaliassem, numa escala de um a sete --sendo um "absolutamente proibido" e sete, "absolutamente permitido"--, quando julgassem o que Grace e outros protagonistas das situações expostas fizeram era moralmente aceitável.
Maniqueísmo
Dois experimentos foram conduzidos. No primeiro, pediu-se aos participantes que julgassem os personagens da situação após sua junção temporo-parietal ter sido afetada por pulsos magnéticos durante 25 minutos.
No segundo, pediu-se que fizessem seus julgamentos enquanto submetidos a impulsos muito curtos de interferência magnética.
Em ambos os experimentos, a alteração da atividade neurológica normal na junção temporo-parietal direita desativou o mecanismo de julgamento moral das pessoas relativo às crenças dos protagonistas.
Com a junção temporo-parietal alterada, os voluntários se mostraram mais propensos a considerar moralmente aceitáveis tentativas frustradas de causar mal a outra pessoa do que os voluntários do grupo de controle cujo cérebro não foi estimulado.
"Quando a atividade na jução temporo-parietal é alterada, os julgamentos morais dos voluntários se inclinam para uma 'mentalidade [do tipo] sem prejuízo, sem falta'" --ainda que os participantes tenham atribuído a personagens como Grace a menção de 'proibido' por acreditarem que suas ações poderiam causar mal, destacou o estudo.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u714607.shtml

terça-feira, 30 de março de 2010

Rendimento escolar de crianças britânicas melhora com dieta saudável


30/03/2010 - 10h16

Rendimento escolar de crianças britânicas melhora com dieta saudável

da EFE
A campanha de levar uma dieta saudável aos refeitórios das escolas britânicas, promovida pelo cozinheiro e guru da alimentação balanceada, Jamie Oliver, demonstrou ter repercussões positivas no rendimento acadêmico das crianças e diminuiu suas ausências por doença.

SXC

Refeitórios das escolas britânicas passaram a servir verduras, legumes, frutas, peixe e rosbife no lugar de fast-food

Oliver retirou do menu do refeitório do colégio os hambúrgueres, as batatas fritas, os nuggets de frango e as salsichas, e em seu lugar, os alunos começaram a comer rosbife, pescado, bolo de verduras, lentilhas com cogumelos e frutas.
Para medir as consequências da campanha, foram analisados os resultados acadêmicos das crianças de 11 anos de um colégio de Greenwich, ao sul de Londres, e as conclusões foram publicadas nesta terça-feira (30) pelo jornal britânico "The Guardian".
A percentagem de crianças que melhoraram seu rendimento em língua inglesa subiu 4,5% após a campanha. Em ciências, a porcentagem de crescimento foi de 6%.
Além disso, o número de ausências justificadas às aulas, que normalmente acontecem por razões médicas, caiu 15% desde 2004, quando começou a campanha "Feed me better" (Me alimente melhor, em inglês).
Os resultados são, segundo os pesquisadores, de uma magnitude comparável à introdução da chamada hora de leitura nos anos 90.
"É a primeira vez que é feito um estudo completo sobre os efeitos positivos da campanha, demonstrando claramente que estivemos agindo corretamente durante todo este tempo", assegurou Oliver.
O cozinheiro também iniciou a iniciativa nos EUA, mas não obteve o sucesso esperado, pois sofreu com a oposição das grandes cadeias de fast-food.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/equilibrio/noticias/ult263u714004.shtml

domingo, 28 de março de 2010

Menino com 31 dedos é operado com sucesso na China

Menino com 31 dedos é operado com sucesso na China

Médicos retiraram 11 dedos da criança chinesa de seis anos que nasceu com polidactilia

25 de março de 2010 | 9h 35
 
Efe
Uma criança chinesa de seis anos, que tinha nascido com 31 dedos (15 nas mãos e 16 nos pés), foi submetido com sucesso a uma operação para retirar 11 deles, informou o oficial Diário do Povo.
 China Daily/Reuters
Criança chinesa nasceu com polidactilia, que é uma má formação que desenvolve dedos extras
 
A criança, cujo nome não foi revelado, nasceu com polidactilia (má-formação que causa o desenvolvimento de dedos extras) na localidade de Yingkou, na província de Liaoning. A cirurgia aconteceu na cidade de Shenjing, capital da mesma província.
A mãe da criança, de sobrenome Liu, contou ao portal informativo "Sina.com" que seu filho era alvo de brincadeiras de mau gosto e provocações de seus companheiros na creche, o que tinha feito com que ele se tornasse retraído, e por isso a família decidiu realizar a operação.
Segundo a mãe, o menino não queria ir à escola por conta das provocações, andava sempre com as mãos nos bolsos e se negava a tirar os sapatos. Além disso, tinha dificuldades para segurar talheres e não podia escrever corretamente, já que alguns dos dedos eram presos a outros.
Os médicos que o operaram disseram que intervenções como essas devem ser feitas cedo, para que as crianças se adaptem a seus "novos" pés e mãos. Além de ter os dedos excedentes amputados, o menino teve mãos e pés reconstruídos. O cirurgião encarregado da operação, Tian Lijie, já tinha experiência neste tipo de operações, mas nunca tinha feito uma a uma criança com tantos dedos.
Segundo o livro Guinness dos Recordes, as pessoas com mais dedos do mundo são dois rapazes indianos (Pranamya Menaria e Devendra Harne, de 4 e 15 anos, respectivamente), que têm 25 dedos cada, seis a menos que o pequeno chinês operado.
 

Moluscos mostra suas belas cores... Vai Aplysia !!!

Fotógrafos britânicos registram festival de cores de lesmas marinhas

Espécies foram fotografadas nos mares da Indonésia e das Filipinas em abril e novembro de 2009

26 de março de 2010 | 9h 24
BBC Brasil
Chromodoris magnifica

LONDRES - Os fotógrafos britânicos David e Debi Henshaw capturaram o show de cores e formas inusitadas de várias espécies de lesmas marinhas nos mares da Indonésia e das Filipinas, em duas viagens separadas, realizadas em abril e novembro do ano passado.
Halgerda batangas

 Em entrevista à BBC Brasil, Debi contou que "é divertido caçá-las e de fato é difícil encontrá-las". "Mas depois que as encontramos, é fácil tirar a foto, porque elas quase não se movem ou se movem muito devagar", completou.
Risbecia tryoni

 Os casal britânico começou a fotografar a vida marinha há cerca de oito anos. De acordo com Debi, este é "um hobby levado muito a sério" por eles, tanto que agora suas viagens são financiadas com o dinheiro ganho em diferentes prêmios de fotografia.
Janolus sp

Além da região asiática, o casal já registrou em suas imagens a vida marinha do Caribe. David e Debi moram atualmente na ilha de Minorca, arquipélago das Ilhas Baleares, território espanhol.
 Nembrotha chamberlaini

sábado, 27 de março de 2010

Total de calorias é mais importante do que número de refeições

26/03/2010 - 16h12

Total de calorias é mais importante do que número de refeições

ANAHAD O'CONNOR
do New York Times
A ideia por trás de comer refeições menores e mais frequentes é simples: distribuir as calorias diárias ingeridas em seis refeições estimula o metabolismo, fazendo-o acelerar e, portanto, queimando mais calorias.

sxc

 
Se o total de calorias ingerido em seis refeições for o mesmo do que o consumido em duas refeições, o efeito será o mesmo na dieta

Alguns estudos descobriram pequenos benefícios à saúde na ingestão de refeições menores, mas muitas vezes a pesquisa envolveu extremos, como comparar os efeitos de duas ou três grandes refeições diárias com doze ou mais lanchinhos. Seis refeições, de acordo com alguns livros de ajuda e dietas, é uma abordagem mais realista.
Mas não conte com isso. Se o total de calorias e nutrientes ingerido for o mesmo, o metabolismo, no fim das contas, deveria permanecer o mesmo. Um estudo que demonstrou isso de forma cuidadosa, publicado em 2009 no "The Britishc Journal of Nutrition", envolveu grupos de homens e mulheres acima do peso que foram aleatoriamente orientados a aderir dietas bastante restritivas em relação a calorias e a seguiram por oito semanas.
Cada participante consumiu o mesmo número de calorias por dia, mas um grupo ingeriu as calorias em três refeições e o outro em dez.
Ambos os grupos apresentaram perdas significativas e equivalentes de peso. Não houve diferença entre eles na perda de gordura, controle do apetite ou medições de hormônios que sinalizam a fome a saciedade. Outros estudos tiveram resultados similares.
Para "dar um gás" no metabolismo, os estudos sugerem exercícios físicos. Não existe evidência sólida de que seis refeições pequenas, em vez de três, aceleram o metabolismo.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/equilibrio/noticias/ult263u712538.shtml

quinta-feira, 25 de março de 2010

Australiano com sangue raro já salvou mais de 2 milhões de bebês

Australiano com sangue raro já salvou mais de 2 milhões de bebês

Plasma sanguíneo de James Harrison é utilizado na vacina contra a doença de Rhesus

23 de março de 2010 | 9h 35
 
BBC Brasil
O australiano James Harrison, dono de um tipo sanguíneo raro, já salvou a vida de 2 milhões e 200 mil recém-nascidos, incluindo a do próprio neto.
 Sydney Morning Herald/BBC
James Harrison, de 74 anos, ganhou o apelido de 'O homem com o braço de ouro'

 Seu plasma sanguíneo é usado na criação de uma vacina aplicada em mães para evitar que seus bebês sofram da doença de Rhesus, também conhecida como doença hemolítica ou eritroblastose fetal.
A doença causa incompatibilidade entre o feto e a mãe. A doença acontece quando o sangue da mãe é Rh- e, o do bebê é Rh+. Após uma primeira gravidez nestas condições ou após ter recebido uma transfusão contendo sangue Rh+, a mãe cria anticorpos que passam a atacar o sangue do bebê.
O sangue de Harrison, de 74 anos, no entanto, é capaz de tratar essa condição mesmo depois do nascimento da criança, prevenindo a doença.
Após as primeiras doações à Cruz Vermelha australiana, descobriu-se a qualidade especial do sangue de Harrison. Foi quando ele ganhou o apelido de "o homem com o braço de ouro".
"Nunca pensei em parar de doar", disse Harrison à mídia local. Em mais de uma década, ele fez 984 doações de sangue e deve chegar a de número mil ainda nesse ano.
Harrison se tornou voluntário de pesquisas e testes que resultaram no desenvolvimento de uma vacina conhecida como Anti-D, que previne a formação de anticorpos contra eritrócitos Rh-positivos em pessoas Rh-negativas.
Antes da vacina Anti-D, Rhesus era a causa de morte e de danos cerebrais de milhares de recém-nascidos na Austrália.
Aos 14 anos de idade, Harrison teve de passar por uma cirurgia no peito e precisou de quase 14 litros de sangue para sobreviver. A experiência foi o que o levou, ao completar 18 anos de idade, a passar a doar com constância o próprio sangue.
Seu sangue foi considerado tão especial que o australiano recebeu um seguro de vida no valor de um milhão de dólares australianos, o equivalente a R$ 1,8 milhão.

domingo, 21 de março de 2010

Arraias invadem rios de São Paulo e ferem pescadores

Arraias invadem rios de São Paulo via lago de Itaipu e ferem pescadores

Antes, Sete Quedas restringiam espécies à bacia Paraná-Paraguai.
Parentes dos tubarões, elas já chegaram aos rios Paranapanema e Tietê.
Giovana Girardi  
Da ‘Unesp Ciência’

O G1 publica abaixo reportagem da 6ª edição da revista “Unesp Ciência”, lançada nesta sexta-feira (5). Você vai conhecer o trabalho de pesquisadores que mergulham no rio Paraná para desvendar a ecologia da infestação de arraias que aproveitaram o lago da hidrelétrica de Itaipu para proliferar e ocupar outros ambientes, ameaçando banhistas e pescadores.  Clique aqui para ter acesso ao conteúdo completo da edição.

Amputação preventiva - Exemplar de 'Potamotrygon motoro' com a cauda mutilada. Pescadores costumam amputar o animal na expectativa de reduzir os acidentes, em uma prática conhecida como 'pesca negativa'; o ferimento, no entanto, prejudica a natação das arraias e uma de suas técnicas de defesa, que é se enterrar rapidamente (Foto: Cristiano Burmester / Unesp Ciência ed.6)

 Quando a luz apagou em boa parte do Brasil em 11 de novembro do ano passado , o pescador Alfredo Alves Cruz, de 32 anos, estava a ponto de desespero em sua casa, com o pé latejando de dor. Mais cedo ele tinha tomado uma ferroada de arraia quando pescava às margens do rio Paraná, em Três Lagoas (MS), e naquele momento tentava, com água quente, aplacar o sofrimento.

Há uma certa ironia da natureza em ele ter se acidentado em um dia de apagão, visto que o animal que o feriu só estava ali justamente porque 27 anos antes era inundada uma imensa área no Estado do Paraná para abastecer a maior usina hidrelétrica do mundo – Itaipu. As famosas Sete Quedas de Guaíra, que submergiram em outubro de 1982, historicamente serviram como barreira que impedia que as arraias, comuns no baixo e médio Paraná, subissem para o alto rio.

Com o lago criado, esses peixes parentes dos tubarões encontraram um novo caminho e rapidamente colonizaram uma região que até então desconhecia sua existência. Há milhões de anos, arraias marinhas do Caribe se adaptaram para viver nos rios da Amazônia . Dali, pelo Mato Grosso, chegaram ao Pantanal e desceram até a bacia Paraná-Paraguai, onde estavam restritas. Agora, pelo rio Paraná elas já chegaram até Ilha Solteira, a mais de 350 km do ponto inicial de dispersão (Foz do Iguaçu). E também alcançaram os rios Paranapanema e Tietê.
 
Quinze dias depois do acidente, quando visitamos a região, Cruz ainda reclamava do pé, que, se não chegara a necrosar com o veneno – a água quente amenizou o problema –, infeccionou pela ação de bactérias. O pescador só pensava que nunca mais queria ver aquele bicho pela frente.

Mas é melhor ele não contar com isso se quiser evitar um novo sofrimento. Afinal, não se deparar mais com o peixe naquela região é uma possibilidade altamente remota, alertam os pesquisadores Vidal Haddad Jr., dermatologista da Faculdade de Medicina da Unesp, câmpus de Botucatu, e Domingos Garrone Neto, biólogo que completou doutorado sobre os animais em 2009 na instituição e agora inicia o pós-doutorado na mesma área.

“O rio Paraná está coalhado de arraias, elas têm alimento de qualidade, não têm predadores naturais na região e os pescadores, por causa dos acidentes, têm preconceito e não comem sua carne. A tendência é que essa expansão só continue”, afirma Haddad.

Acompanhamos a dupla a Três Lagoas em uma de suas visitas regulares para monitorar a população de arraias e o impacto que essa invasão biológica vem tendo na saúde humana. A cidade sul-mato-grossense fica em frente a Castilho (SP), na outra margem do rio Paraná, exatamente onde foi construída a Usina Hidrelétrica Engenheiro Souza Dias (Jupiá). São seis horas de carro a partir de São Paulo – que viram cinco após atravessarmos a ponte sobre o rio, por conta do fuso horário.

Enquanto Garrone investiga a ecologia do animal e a história natural de sua expansão, Haddad trabalha com educação ambiental, prevenção, tratamento e pesquisas em torno do veneno. Eles escolheram a cidade como base dos estudos por contarem ali com uma unidade da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, que os apoia nas pesquisas de campo e na logística de laboratórios.

Risco do desconhecido
A relação entre arraias e seres humanos nunca foi muito boa. O animal é frequentemente associado a ferimentos de pescadores e ribeirinhos, principalmente na região Norte do país, onde esses peixes vivem há milhares de anos e são bastante comuns – e a população está mais do que acostumada com eles. É de se imaginar o que aconteceria com comunidades que nunca tinham visto o bicho antes. Foi o que levou Haddad há cerca de dez anos a começar a prestar atenção nas cidades com praias fluviais no rio Paraná.

Um levantamento feito por Itaipu logo após a submersão das Sete Quedas mostrara que as arraias tinham subido. Antes da formação do lago, a fauna aquática da região de Foz do Iguaçu tinha 113 espécies de peixes, depois do alagamento, 76 novas espécies surgiram no local, entre elas três de arraia. Mas não foi feito nenhum monitoramento posterior para saber se elas estavam se movendo e para onde.

“Naquela época ouvi os primeiros relatos sobre a ocorrência desses animais no Estado de São Paulo. Fiz coletas em Presidente Epitácio com a ajuda de pescadores, ao mesmo tempo em que comecei a procurar por acidentes. O local tinha muitas arraias, o que nos levou a crer que o rio Paraná estava todo colonizado, pelo menos até Epitácio. Alertei em 1999 que a expansão deveria continuar por São Paulo, entrando pelo rio Tietê, e é o que está acontecendo agora”, afirma.

Apesar de não serem agressivas e não atacarem as pessoas, as arraias reagem com uma chicotada da cauda, onde fica o ferrão, quando alguém pisa ou esbarra nelas.

No ano passado, o Instituto Butantan estimou que os acidentes com esses peixes estão entre os mais comuns entre aqueles que envolvem animais peçonhentos no Brasil, principalmente na região Norte.

 Não agressoras - Arraias se defendem com o ferrão (Foto: Cristiano Burmester / Unesp Ciência, ed.6)



Na região do Alto Paraná ainda não há estatística sobre o número de acidentes, mas a percepção dos pesquisadores é que eles vêm crescendo. De fato, quando Haddad avaliava o ferimento de Alfredo Cruz, três outros pescadores – num grupinho de cinco – mostravam as cicatrizes de ferroadas antigas. “Por enquanto, pelo menos, parece que os acidentes estão restritos aos pescadores. O que preocupa é na hora que começarem a acontecer nas prainhas de lazer”, afirma o dermatologista.

Para tentar antever os riscos que poderiam decorrer dessa interação arraias-gente, Garrone Neto começou a investigar os animais da região. Ele já conhecia o impacto que os peixes têm nas populações ribeirinhas da Amazônia e, assim como Haddad, imaginou que a situação tendia a ser pior num local desprevenido. “Vi no Norte do país que os acidentes eram frequentes e, por acometerem quase sempre os membros inferiores das vítimas, eram de grande interesse ocupacional e também de saúde pública.”

Isso aliado ao fato de haver poucos estudos sobre a ecologia das arraias – ninguém ainda as havia observado em seu habitat – foi o motivo que o pesquisador precisava. A partir de 2004 ele começou a “cair nas águas” da região do Alto Paraná para realizar os primeiros estudos subaquáticos conhecidos sobre esses animais. O objetivo era descobrir como eles vivem, se reproduzem, se alimentam etc. Quando estivemos em Três Lagoas ele contou que boa parte dessas questões já foi respondida com os mergulhos, coletas e análises de conteúdo estomacal, mas algumas perguntas dependem agora da próxima etapa da pesquisa, que envolve o uso de telemetria – a inserção de chips nos peixes para que seja possível acompanhar a sua locomoção.


O Sol já estava alto quando entramos no barco de Marcos Teixeira da Silveira, o Marquinho, pescador de 35 anos que acompanha Garrone desde o início da pesquisa.

Equipamentos de mergulho e todas as “tralhas” para a pesquisa costumam lotar a embarcação, mas nesse dia vamos apenas observar. O pesquisador submeteu o projeto de pós-doutorado à Fapesp e ainda espera a liberação da verba para compra do equipamento de telemetria.

Navegação via eclusa
O rio corre calmo na altura de Jupiá e não há pescadores à vista, por conta do período de defeso para a reprodução dos peixes. A barragem imponente, no entanto, nos lembra por que estamos lá. Depois que as arraias ganharam um mundo novo para colonizar com a submersão das Sete Quedas, elas contaram com a ajuda de outras interferências humanas para chegar tão longe rio acima e tributários.

Usinas construídas ao longo da bacia do Paraná, como a de Porto Primavera (em Rosana, SP) e a própria Jupiá, facilitaram o trânsito dos peixes através das eclusas construídas para possibilitar o transporte hidroviário. Quando navios e barcos transpõem os desníveis dos rios, as arraias acabam aproveitando a carona. A navegação pelo Tietê também funciona do mesmo modo (quem já fez excursão para Barra Bonita deve se lembrar), o que pode permitir que as arraias entrem cada vez mais para o centro do Estado de São Paulo, onde há muitas praias.

“Queremos descobrir também o que deve acontecer acima de Ilha Solteira. Lá elas já chegaram, mas a usina não tem eclusa, então, em teoria, é o fim da linha”, afirma Garrone. Mas há uma brecha. As turbinas ligadas sugam os animais que estão no rio, então, de tempos em tempos os funcionários “salvam” os que ficaram presos nelas. “Mas pode ocorrer de alguém jogar uma arraia ou outra para cima, em vez de para baixo, favorecendo a transposição da barragem”, complementa.


“Essa história que estamos documentando há cinco anos é o único caso conhecido no mundo de elasmobrânquios invasores, ou seja, de tubarões ou arraias que chegaram a um lugar onde eles não ocorriam originalmente”, explica. Tais observações vêm sendo divulgadas por Haddad e Garrone já há alguns anos em revistas como "Biota Neotropica" e o "Boletim da Sociedade Brasileira de Ictiologia".

No artigo mais recente, que deve sair em breve na "Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical", eles escrevem: “Pelas arraias estarem colonizando áreas densamente povoadas e ampliando sua área de distribuição a cada ano, é de se esperar que sua interação negativa com humanos se intensifique, provocando alterações importantes no perfil epidemiológico dos acidentes por animais peçonhentos ocorridos no sudeste brasileiro.”

De acordo com relatos obtidos pela dupla com ribeirinhos de todo o Alto Rio Paraná, as arraias começaram a se instalar na área em 1993. Marquinho conta que um primo seu foi um dos primeiros a “conhecer” a novidade em Três Lagoas em meados daquela década. “Ele mergulhou de barriga e tomou a ferroada. Ninguém sabia que bicho era aquele. Ele veio gritando de dor e quando chegou no barraco, apagou”, lembra.

Hoje Marquinho sabe muito bem como são as arraias, distinguindo inclusive as espécies, como pudemos perceber logo que paramos o barco para, enfim, entrar no Paraná. Enquanto Garrone e o fotógrafo Cristiano Burmester se preparavam para o mergulho, o pescador caiu na água com uma rede, flutuou um pouco com a cabeça submersa para logo em seguida afundar completamente.

“Agora ele só volta com uma arraia na mão”, comenta Haddad, o que não leva nem 30 segundos para acontecer. Ele sobe à tona com um exemplar de Potamotrygon falkneri, uma das duas espécies observadas na região (a terceira que subiu para o Alto Paraná ficou restrita ao Parque Nacional de Ilha Grande). Trata-se de um jovem macho, com um disco de cerca de 25 centímetros de diâmetro.

 Coalhado de arraias - Marquinho mostra um espécime macho de 'P. motoro' retirado do fundo do rio apenas 20 segundos após o mergulho (crédito: Cristiano Burmester / Unesp Ciência, ed. 6) 

Com um alicate Domingos segura o ferrão e com uma esponja segura o peixe por baixo para fora d’água. Na mão do pesquisador, o belo animal provoca admiração. “O ferrão é retrosserrilhado, entra e sai rasgando a pele. Ele é recoberto por um muco rico em células glandulares que têm toxinas. Além da estrutura rígida que compõe o ferrão, é isso que faz o estrago quando entra”, explica Domingos.

Na sequência Marquinho trouxe outro macho, dessa vez da espécie Potamotrygon motoro. Com bolinhas alaranjadas, ela é mais bonita que a anterior – e esse exemplar específico é ainda mais perigoso, tem dois ferrões. “Se tomar uma dessas, vai ver estrelas”, comenta Haddad. Ele explica que em caso de acidente, a recomendação é jogar água quente não escaldante.

Leia também:
Arraias de água doce estão entre animais mais perigosos da Amazônia

A descoberta de por que isso funciona é um dos resultados do trabalho na região. “Em todo o mundo recomendava-se o uso da água quente [nos acidentes com as arraias marinhas] acreditando-se que ela desnaturaria o veneno”, diz. “Mas a gente provou que não. Injetando o veneno em animais de experimentação, percebemos que os vasos sanguíneos se contraem, daí a dor e a necrose. A água quente faz uma vasodilatação, por isso que ajuda e alivia a dor”, afirma o dermatologista.

‘24 horas’ dentro d’água
Para conhecer os hábitos do animal, e assim poder informar a população sobre como se prevenir, Domingos passou muitas horas submerso ao longo de cinco anos de pesquisas. “Queria saber, por exemplo, em qual horário do dia elas são mais ativas”, conta. “Mas para isso precisaria ficar 24 horas dentro d’água, o que é impossível.” Ele então dividiu um dia em vários. No primeiro mergulhava das 5h às 8h e depois das 16h às 20h. No dia seguinte, ficava das 9h ao meio-dia, e das 21h à meia-noite. Cada dia um horário diferente para tentar cobrir o dia inteiro.

“Vi que elas nadam, vão à superfície, se deslocam junto à vegetação, mas o hábito é predominantemente bentônico. Elas passam quase todo o tempo em associação com o substrato”, explica. Elas ficam escondidas, só com os olhinhos para fora. E é aí que mora o perigo.

“É um animal que confia demais na camuflagem e por isso acaba sendo pisoteado. Ele acha que as pessoas não vão machucá-lo porque não o estão vendo ali, mas é por isso que elas às vezes esbarram nele. Quando as arraias sentem uma estocada no dorso têm uma reação igual a quando tomamos uma pisada no pé: tirar rápido. Ela ferroa e vai embora. Não ataca ninguém, é defesa.” Por isso um cuidado ao entrar num rio que tenha arraia é arrastar os pés no fundo. Ela percebe o movimento e vai embora.

“A prevenção é fácil, já controlar a população é mais difícil. Ninguém pesca, ninguém come”, diz. E se conta com bastante comida e água de boa qualidade, ela só tende a crescer, e os indivíduos de borda, mais jovens, saem à procura de novos ambientes. Com a telemetria, que Domingos espera começar a implantar nos próximos meses, será possível descobrir quantos animais têm de existir numa população para ela começar a se expandir. “Também não sabemos quanto tempo as arraias vivem, quanto podem se deslocar ao longo da vida e com qual velocidade. Esperamos que esses dados possam trazer dicas de como controlá-las. Porque uma ferroada dessas é de perder a noção de dor.”

Copyright: Unesp Ciência

“Unesp Ciência” é uma publicação da Universidade Estadual Paulista que traz reportagens sobre os grandes temas da ciência mundial e nacional e sobre as pesquisas mais relevantes que estão sendo realizadas na instituição, em todas as áreas do conhecimento. Leia reportagens anteriores publicadas pelo G1:
http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL1516817-5603,00-ARRAIAS+INVADEM+RIOS+DE+SAO+PAULO+VIA+LAGO+DE+ITAIPU+E+FEREM+PESCADORES.html 

Menor espécie de tamanduá do mundo

Expedição vai investigar menor espécie de tamanduá do mundo

Animal mede cerca de 20 centímetros e pesa 300 gramas.
Pesquisadores entrevistarão ribeirinhos do PA para investigar o bicho.

Lucas Frasão  
Do Globo Amazônia, em São Paulo

  Espécie mede cerca de 20 cm, descontando a cauda. (Foto: Projeto Tamanduá/ Divulgação)


Segundo Flávia Miranda, pesquisadora do Instituto de Pesquisa e Conservação de Tamanduás no Brasil (Projeto Tamanduá), ainda não é possível dizer se a menor espécie do animal corre risco de sumir do mapa na Amazônia, por causa da escassez de informações.

Mas há relatos de que o tamanduaí pode ser capturado para domesticação e a suspeita de que ele serve como alimento em algumas comunidades da floresta. "Isso pode resultar na diminuição da espécie. O animal não é agressivo com as crianças, mas elas não conhecem seus hábitos alimentares", diz a pesquisadora.

 
Animal vive principalmente nas árvores (Foto: Projeto Tamanduá/ Divulgação)



"Não há estatística sobre o tamanduaí", explica Flávia. "Mas a população da espécie na Amazônia é enorme, incluindo Peru e Venezuela, por exemplo". A distribuição original do animal abrange florestas tropicais na América Central e do Sul, em regiões abaixo de 1.500 metros de altitude.

No Brasil, também habita regiões da mata atlântica no Nordeste, onde pode correr risco de extinção, de acordo com Flávia, pela perda de seu habitat natural, resultado do avanço das plantações de cana-de-açúcar. Para conhecer melhor o comportamento do tamanduaí, a pesquisadora estuda a espécie desde meados de 2007 e, nesta nova expedição, vai entrevistar moradores de comunidades na Reserva Biológica do Rio Trombetas, em Oriximiná.

A unidade de conservação no noroeste do Pará tem mais de 400 mil hectares de bioma protegido e abriga, além do tamanduaí, outros animais, como a tartaruga-da-Amazônia.

 Por não ser agressivo, o animal pode ser domesticado por comunidades ribeirinhas, atitude que ameaça a sobrevivência da espécie, segundo pesquisadores. (Foto: Projeto Tamanduá/ Divulgação)

De acordo com Flávia, que também prepara uma tese de doutorado sobre o tamanduaí pela Universidade de São Paulo (USP), a pesquisa sobre o animal é inédita no mundo. "Ainda não existem descrições sobre a ecologia básica, as doenças e a genética da espécie. Ela é importante porque só ocorre na América Latina", diz. "Pretendemos entender como vivem as populações do animal no Brasil e, a partir disso, identificar um plano de ação."

Por enquanto, sabe-se que o tamanduaí tem hábitos noturnos e que se alimenta basicamente de formigas e cupins. O contato com comunidades ribeirinhas na Amazônia é importante porque os moradores geralmente dão dicas sobre o comportamento do animal, como os sons que ele emite e as árvores em que geralmente pode ser encontrado na floresta.
 http://www.globoamazonia.com/Amazonia/0,,MUL1523866-16052,00-EXPEDICAO+VAI+INVESTIGAR+MENOR+ESPECIE+DE+TAMANDUA+DO+MUNDO.html

Cai um mito - planta carnívora não come mamíferos.

Planta 'carnívora' na verdade só come fezes de pequenos mamíferos

Imaginava-se que a ‘Nepenthes rajah’ ingeria musaranhos e ratos.
Espécie nativa de Bornéu atrai os bichos para servir como privada.
A maior planta carnívora da Terra não foi desenhada para almoçar pequenos animais e sim para comer suas fezes. A descoberta um tanto desconcertante ocorre 150 anos depois da descoberta pelos botânicos da espécie Nepenthes rajah, nativa da região montanhosa de Bornéu, na Indonésia.

Cai um mito - Botânicos demoraram um século e meio para perceber que a planta carnívora não come mamíferos. O cardápio é outro (crédito: Eric in SF - flickr)

 Em forma de jarro, a planta tem uma embocadura do tamanho exato do corpo de musaranhos-da-árvore (Tupaia glis). Mas a entrada não tem diâmetro suficiente para engolir os bichos, eis a verdade. O mesmo vale para ratos.

 Um lugar para aliviar suas necessidades - Musaranhos, como o da foto acima, eram vistos como vítimas preferenciais da temida planta carnívora 'Nepenthes rajah'. Na verdade, eles vão lá para fazer cocô (ainda por cima sob efeito de um néctar agradável, cortesia da planta) (Foto: Mehgan Murphy, Smithsonian’s National Zoo)

Diante das limitações de design, a N. rajah contenta-se em usar um néctar agradável para atrair os musaranhos. Aí sim: a “privada” natural tem a abertura perfeita para coletar os dejetos do mamífero.
Detalhes da descoberta, noticiada pelo site BBC Earth News, foram publicados no periódico científico “New Phytologist”.

Além de cocô, a dieta da N. rajah é rica em formigas e aranhas, que fornecem nitrogênio e fósforo para seu organismo. Seu reservatório (o local onde ficaria a água da privada, mal comparando) chega a comportar 2 litros de um fluido que dissolve vítimas e dejetos em geral.


Vítima do carbono

Vítima do carbono

Estudo da UFMG revela que a exposição do alecrim-do-campo a altas concentrações de gás carbônico na atmosfera provoca alterações fisiológicas prejudiciais ao desenvolvimento da planta.
Por: Camilla Muniz
Publicado em 12/03/2010 | Atualizado em 12/03/2010

O alecrim-do-campo é usado no tratamento da esquistossomose e em restaurações ambientais e sua resina é essencial para a produção da própolis verde (substância empregada no combate a microrganismos). Foto: Wikimedia Commons.  
 
As consequências do aumento das emissões de carbono na atmosfera podem ir muito além do aquecimento global e atingir até o desenvolvimento das plantas. Um estudo feito por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) mostra que altas concentrações de gás carbônico (CO2) no ar provocam alterações negativas no alecrim-do-campo (Baccharis dracunculifolia) – planta nativa do Brasil também conhecida como vassourinha.
Os cientistas buscam investigar os efeitos das mudanças na atmosfera sobre a biodiversidade. Para isso, decidiram verificar inicialmente se o alecrim-do-campo sofre alterações fisiológicas, químicas e ecológicas quando exposto a altas concentrações de CO2.

“O aquecimento global suscita debates em todo o mundo, mas raramente os impactos sobre a biodiversidade são discutidos, principalmente quando se trata de regiões tropicais”, explica o biólogo Geraldo Wilson Fernandes, coordenador da pesquisa e do Laboratório de Ecologia Evolutiva e Biodiversidade da UFMG.
Segundo Fernandes, a escolha do alecrim-do-campo deve-se principalmente a sua grande importância social: a planta é usada no tratamento da esquistossomose e em restaurações ambientais e sua resina é essencial para a produção da própolis verde (substância empregada no combate a microrganismos). A espécie é encontrada no Brasil (desde a Bahia até a região sul), na Argentina, no Paraguai e na Bolívia.
Para realizar o estudo, os pesquisadores compararam o comportamento do alecrim-do-campo quando submetido a ambientes com diferentes concentrações de gás carbônico. A planta foi cultivada em duas estufas que simulavam a atmosfera atual da Terra, com 380 partes de CO2 por milhão, e em outras duas que continham 700 partes do gás por milhão, taxa que deve ser atingida no final do século, de acordo com estimativas de 2007 feitas pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Todas as câmaras tinham um sistema computadorizado de controle de temperatura e umidade
 
  Durante o estudo, o alecrim-do-campo foi cultivado em estufas com diferentes concentrações de gás carbônico, que simulavam a atmosfera atual da Terra e a taxa de emissões que deve ser atingida no final do século, segundo estimativas do IPCC (foto: Camila Sá).

Maiores e menos saudáveis

A pesquisa revelou que, em um ambiente com alta concentração de gás carbônico, o alecrim-do-campo cresce mais rapidamente, o que pode ser explicado pelo mecanismo da fotossíntese: quanto mais CO2 disponível na atmosfera, maior quantidade do gás é capturada para produção de energia. Mas o crescimento acelerado é acompanhado do enrijecimento das folhas, causado pela diminuição dos espaços entre as células e pelo acúmulo de ligninas e celulose.
Além disso, os pesquisadores da UFMG identificaram alterações prejudiciais na produção de flavonoides, substâncias que constituem um importante mecanismo de fotoproteção contra raios ultravioleta. “A maior absorção dessa radiação pode afetar o desenvolvimento celular e até provocar a morte de tecidos”, afirma Fernandes.

A próxima etapa do estudo é detalhar os efeitos do gás carbônico sobre taxas de respiração, troca de gases, fotossíntese, produção de substâncias químicas, crescimento de raízes e ainda sobre as relações mutualísticas entre o alecrim-do-campo e fungos endofíticos (organismos que habitam o interior das plantas sem gerar danos). “É importante compreender não apenas as consequências sofridas pelo vegetal, mas os impactos causados a todos os seres vivos que dependem dele”, ressalta o biólogo.
Segundo Fernandes, o homem poderá ser prejudicado à medida que a exposição do alecrim-do-campo a altas concentrações de CO2 altere a composição química e estrutural da planta e inviabilize sua utilização. Caso a tendência de crescimento exagerado se confirme para outras espécies de plantas, os cientistas temem que elas se transformem em pragas invasoras de pastagens e nascentes de água, o que acarretará problemas naturais e econômicos.
Futuramente, a pesquisa deve ser expandida para outros grupos de vegetais, como trepadeiras e gramíneas. Também está sendo estudada a possibilidade de utilizar o alecrim-do-campo como indicador de poluição em ambientes urbanos, por meio da análise, por exemplo, dos efeitos de elementos como arsênio e cádmio sobre a germinação da planta.

Camilla Muniz
Ciência Hoje On-line
 http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2010/03/vitima-do-carbono

Novo atlas de anatomia Frankenstein como guia

20/03/2010 - 17h25

Novo atlas de anatomia para jovens apresenta Frankenstein como guia

da Folha de S.Paulo
Um novo atlas do corpo humano tenta conquistar o público infantojuvenil usando ilustrações didáticas detalhadas, mas num roteiro de ficção. "O Incrível Livro do Corpo Humano Segundo o Dr. Frankenstein", que sai agora em português, é uma introdução à anatomia que não se limita, porém, à curiosidade.
Richard Walker, o autor, usa imagens de impacto para explicar desde organelas celulares como as mitocôndrias --que "enviam energia para as reações químicas das células"- até o funcionamento de uma tomografia --em que "um raio X giratório passa pelo corpo de uma pessoa deitada".

Reprodução  


A versão americana, de 2008, ganhou destaque nos EUA após receber elogios no site da revista "Wired" e nas publicações "Publishers Weekly" e "School Library Journal", especializada em livros voltados para estudantes.
O roteiro ficcional adotado pelo livro é uma viagem de 30 dias pelo corpo humano guiada pelo Dr. Frankenstein.
Seu objetivo é criar um novo corpo do zero, então o leitor acompanha a preparação das células, como elas se juntam para formar os tecidos, os órgãos, o organismo inteiro. O livro mostra o grau de complexidade que mesmo as células mais simples possuem e como elas conseguem, juntando-se, formar um ser vivo sofisticado.
Todas as páginas do livro, que sai pela Publifolha, têm ilustrações coloridas. É possível ver desde um neurônio até o esmalte dos dentes. O livro mostra também raios-X de várias partes do corpo, ressonâncias do cérebro e imagens de músculos e até do esôfago.
LIVRO - "O Incrível Livro do Corpo Humano Segundo o Dr. Frankenstein: A Verdade Monstruosa sobre o Funcionamento do nosso Organismo", de Richard Walker Publifolha, 93 págs., R$ 55,00
 http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u709773.shtml






























sábado, 20 de março de 2010

Mosquito 'seringa' pica e injeta vacina

Mosquito 'seringa' pica e injeta vacina

Ciência. Pesquisadores japoneses criaram uma linhagem transgênica que inocula pequenas doses de uma vacina experimental contra a leishmaniose. A descoberta levanta uma questão de natureza ética: é possível imunizar uma pessoa sem o seu consentimento?

19 de março de 2010 | 0h 00
Alexandre Gonçalves - O Estadao de S.Paulo
Pesquisadores japoneses criaram mosquitos transgênicos que funcionam como "seringas voadoras". Ao picar suas vítimas, os insetos injetam pequenas doses de uma vacina experimental contra a leishmaniose.
A ideia não é nova. Na década de 80, cientistas já propunham manipulação dos genes para transformar as pragas em aliadas. Agora, um artigo publicado na Insect Molecular Biology demonstrou a viabilidade técnica da estratégia.
A saliva do mosquito é um líquido sofisticado, com muitas substâncias. Algumas delas dificultam a coagulação do sangue. Outras atuam como imunossupressores. Servem para melhorar o desempenho do inseto nas suas refeições. Durante anos, os pesquisadores buscaram a melhor forma de inserir mais um ingrediente na saliva: a vacina.
"Realizamos a descoberta chave em 2005", recorda Shigeto Yoshida, líder do trabalho realizado pela Divisão de Zoologia Médica da Universidade Jichi, no Japão. Naquele ano, os cientistas acharam um bom gatilho para disparar a produção da vacina nas glândulas salivares do inseto: o interruptor do gene que produz um anticoagulante chamado AAPP (mais informações nesta página).
Por enquanto, só um grupo de camundongos se beneficiou da descoberta. "As picadas induzem uma resposta imunológica, como na vacinação convencional, mas sem dor e sem custo", considera Yoshida. "A exposição contínua aos mosquitos serve como reforço natural da imunidade."
Mas Yoshida sabe que seus mosquitos transgênicos dificilmente serão lançados no ambiente para imunizar comunidades afetadas por doenças. O principal obstáculo é de natureza ética: é possível vacinar uma pessoa sem o seu consentimento?
Além disso, seria muito difícil controlar quem, de fato, foi imunizado. Mas Margareth Capurro, do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, aponta outros usos para a técnica. Muitas vacinas precisam ser conservadas em baixas temperaturas, o que dificulta seu uso em regiões isoladas, normalmente as mais afetadas por doenças infecciosas. Ovos de mosquitos não apresentam tal inconveniente. Basta levá-los consigo, lançá-los em um recipiente com água e esperar que as larvas se transformem em um bom arsenal de "seringas voadoras", já prontas com a vacina.
Margareth estuda uma estratégia análoga para combater a malária. Em vez da vacina, ela quer adicionar na saliva do mosquito um coquetel de substâncias capaz de matar o protozoário causador da doença, antes de ele ser injetado durante a picada.
A cientista brasileira já conseguiu identificar uma substância que elimina até 99% dos protozoários.
"Mas basta sobrar 1% para que o mosquito continue infectando as pessoas", aponta Margareth, que agora busca formas de atingir 100% de eficácia.
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100319/not_imp526261,0.php 

Ômega 3 diminui risco de câncer de intestino

19/03/2010 - 15h53

Ômega 3 diminui risco de câncer de intestino

da France Presse
A forma pura do ômega 3, a chamada gordura boa encontrada em certos tipos de peixe e óleos de nozes, reduz perigosos pólipos em pessoas propensas a câncer de intestino, informou um estudo publicado nesta quinta-feira.

SXC
Presente em alguns peixes, como a sardinha, a forma pura do ômega 3 reduz pólipos em pessoas propensas a câncer de intestino


Cinquenta pacientes foram envolvidos na pesquisa, todos com mutações genéticas que incentivavam o desenvolvimento de pólipos - que crescem no intestino e podem se desenvolver para tumores, tornando necessárias remoções de grandes partes do intestino.
Na pesquisa, 28 pacientes foram aleatoriamente incluídos em um grupo que recebeu uma dose diária de dois gramas de uma nova e altamente pura forma de ômega 3, enquanto o outro grupo, de 27 pessoas, recebeu um placebo.
Após 6 meses, o número de pólipos aumentou em cerca de 10% dos pacientes que tomaram o placebo, mas caiu 12% nos que ingeriam as cápsulas de ômega 3, totalizando uma diferença de mais de 22%.
Além disso, o tamanho dos pólipos aumentou em 17% no grupo placebo, enquanto diminuiu em 12,5% no grupo ômega 3, uma diferença de quase 30%.
Os resultados são similares aos produzidos por uma droga chamada celecoxib, comercializada com o nome de Celebrex, utilizada para inibir pólipos em pacientes geneticamente vulneráveis.
Entretanto, celecoxib produziu efeitos colaterais cardiovasculares em pacientes mais idosos. Já as cápsulas de ômega 3 - também chamado de eicosapentaeonic acid, ou EPA - foram 'muito bem toleradas', disseram os médicos.
A pesquisa foi publicada no site da "Gut", a revista da Associação Médica Britânica (BMA, na sigla em inglês).
http://www1.folha.uol.com.br/folha/equilibrio/noticias/ult263u709331.shtml

DNA mostra, cachorro surgiu no Oriente Médio

18/03/2010 - 09h17

Cachorro surgiu no Oriente Médio, mostra análise de DNA


RICARDO MIOTO
da Folha de S. Paulo
Um São Bernardo é tão diferente de um chihuahua que nem parecem ser da mesma espécie. Mas o maior estudo genético já feito sobre cães domésticos acaba de mostrar que, no seu DNA, as várias raças de cachorro são ainda mais parecidas do que se imaginava.
Enquanto a maioria das diferenças de peso e altura em humanos e outros animais envolvem um punhado de genes com efeitos individuais pequenos, em cachorros um único gene é responsável por mais de 50% da variação no tamanho do corpo, por exemplo.
Os cientistas conseguiram também apontar o local onde os primeiros lobos foram domesticados: no Oriente Médio, e não no extremo Oriente, como se pensava.

Editoria de Arte/Folha Imagem  

Eles puderam chegar a essa conclusão analisando o trechos do material genético de mais de 900 cachorros de 85 raças e de lobos do mundo inteiro. Assim, foi possível criar um grande retrato de família, montando uma árvore genealógica da espécie.
Ela é bem inesperada, porque a localização geográfica das raças não parece ter relação com as diferenças genéticas entre elas --ao contrário do que ocorre com espécies que evoluem naturalmente. Afinal, é a seleção artificial humana, não a seleção natural, a principal força a guiar a evolução canina.
As pessoas escolhem os animais que vão sobreviver utilizando critérios como a docilidade, a beleza, a utilidade na caça ou com rebanhos. A seleção artificial faz com que as características da região onde o bicho vive não sejam tão importantes quanto a vontade dos criadores na determinação das suas características.
Os cientistas perceberam como a domesticação podia causar grande impacto nos animais na década de 1950. O soviético Dmitri Belyaev, na época, selecionou por seis gerações os filhotes de raposa mais dóceis para se reproduzirem. Ao final, os animais eram ávidos por contato humano e até ganharam características físicas que humanos consideram simpáticas, como orelhas caídas.
Origens
A seleção artificial aconteceu com força em dois momentos, diz Robert Wayne, biólogo da Universidade da Califórnia em Los Angeles. Ele é coautor do estudo, que envolveu um grupo de 36 cientistas e sai na edição de hoje da revista "Nature".
O primeiro momento ocorreu no próprio Oriente Médio, quando surgiram cerca de 20% das raças atuais. Foi quando surgiu a agricultura, há 10 mil anos, que os laços entre humanos e cachorros se estreitaram. "Nessa região, eles são encontrados enterrados com as pessoas. Em um caso, um filhote foi enterrado nos braços de um homem", diz Wayne.
O outro foi no século 19, quando virou moda criar novas raças de cachorros e apareceram 80% das atuais, dizem os cientistas. Na época se fortaleceu o conceito de "pureza" das raças, surgindo, a partir de então, animais com todo tipo de comportamento e porte.
A partir da 2ª Guerra Mundial, o pedigree se tornou mania entre quem queria comprar um cachorro. O que os cientistas questionam agora é se tal esforço pela purificação das raças é saudável. A falta de variedade genética pode facilitar a proliferação de doenças.
O debate se reacendeu quando Barack Obama decidiu qual cachorro iria morar na Casa Branca --um cão d'água português, para decepção dos grupos de direitos dos animais, que preferiam um vira-lata.

http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u708598.shtml

quinta-feira, 18 de março de 2010

Fêmeas de lagarto duplica genes para se reproduzir sem sexo

17/03/2010 - 11h47

População feminina de lagarto duplica genes para se reproduzir sem sexo

RICARDO BONALUME NETO
da Folha de S. Paulo
Uma equipe de pesquisadores nos EUA resolveu o mistério por trás de uma população de lagartos na qual só existem fêmeas que se reproduzem sozinhas, dispensando a fertilização por machos --uma forma de reprodução sem sexo conhecida como partenogênese.
Os cientistas descobriram que elas produzem células germinativas --as que dão origem a espermatozoides e óvulos-- com o dobro de cromossomos dos lagartos que fazem sexo.
Toda reprodução sem sexo é intrigante para aos biólogos, pois a menor variabilidade genética poderia diminuir a capacidade da espécie de se adaptar ao ambiente e lidar com novos parasitas e predadores.
Sexo também traz problemas: a eficiência da transmissão de genes cai e há grande custo energético. Mas isso é compensado pela variabilidade genética, que leva a indivíduos potencialmente mais aptos.

Peter Baumann  
Quatro gerações de fêmeas de lagarto geradas sem machos; elas duplicam genes para reprodução sem sexo


Os lagartos da espécie Aspidoscelis tesselata vivem no sudoeste dos EUA e norte do México e têm cerca de 10 cm.
A equipe liderada por Peter Baumann, do Instituto Stowers de Pesquisa Médica, mostrou que, com o dobro de cromossomos na divisão celular, é possível haver recombinação de genes entre cromossomos geneticamente idênticos.
Outra tática
"Nosso trabalho mostra que animais podem abandonar a reprodução sexual, pelo menos por muitas e muitas gerações, se outras táticas forem usadas para gerar e preservar a diversidade genética", disse Baumann à Folha. O estudo foi publicado na semana passada na revista científica "Nature".
A partenogênese ("nascimento virgem", em grego) ocorre em plantas e animais, incluindo vespas, peixes, salamandras e répteis, mas não há casos entre mamíferos.
"Se estima que 0,1% das espécies multicelulares se reproduzem via partenogênse", diz Baumann. "Nos lagartos com que trabalhamos há uma incidência muito alta. Cerca de um terço das 50 espécies próximas são partenogenéticas." O porquê disso é algo que ainda se pesquisa.
"Se um animal está bem adaptado ao seu ambiente e este não muda muito, a diversidade genética dentro da espécie se torna muito menos importante do que o grau de reprodução. Uma espécie partenogenética pode se reproduzir mais rápido porque cada indivíduo pode ter crias e não se gasta nem tempo nem energia na busca de um parceiro", afirma Baumann.
Isso ajuda as explicar o porquê de espécies partenogenéticas conseguirem se espalhar e competir com as sexuais em alguns habitats. Basta uma fêmea para colonizar uma ilha, enquanto seria preciso um macho e uma fêmea para fazer o mesmo na espécie sexuada --e eles teriam de se encontrar e "gostar" um do outro.
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u708114.shtml

Nasa encontra vida a 200 metros sob camada de gelo da Antártida

Nasa encontra vida a 200 metros sob camada de gelo da Antártida


terça-feira, 16 de março de 2010

Evolução eliminou relógio biológico de renas

15/03/2010 - 09h11

Evolução eliminou relógio biológico de renas no Ártico

RICARDO MIOTO
da Folha de S. Paulo
 
Os animais do Ártico ficam sem saber o que é escuridão por vários meses durante o verão e, depois, sem ver a luz por outros tantos durante o inverno.
Essa condição, segundo um novo estudo, eliminou nas renas o ciclo biológico de 24 horas --o chamado ritmo circadiano--, que diz ao organismo quando ficar ativo e quando descansar.
Biólogos que fizeram a descoberta acreditam que as conclusões também possam ser válidas para outros mamíferos do local.

Sergei Karpukhin/Reuters  

Renas correm em fazenda perto da cidade de Krasnoye, norte da Rússia; animais perderam relógio biológico

Na maioria dos animais, inclusive nos humanos, o ciclo circadiano controla diariamente parte da oscilação no nível do hormônio melatonina, ligado ao sono, mesmo que não haja luz.
Por causa desse hormônio, se um humano for morar no Ártico, continuará sentindo sono diariamente, ainda que com dificuldade de regular o horário.
Mas agora os cientistas perceberam que a liberação de melatonina no organismo das renas tem pouco ou nada a ver com um ciclo de 24 horas. Ela está relacionada quase que exclusivamente com a presença ou ausência de luz.
Isso é uma vantagem para os animais, segundo os cientistas, pois seria um desperdício se eles estivessem em "modo noturno" durante o verão ensolarado, com o metabolismo desacelerado justamente quando as condições para procurar comida são excelentes.
Por isso, nesse período, os animais dedicam quase 24 horas por dia para encontrar alimento. Em consequência, não dormem por longas horas diariamente, como os humanos. Para descansar, tiram cochilos em série, distribuídos pelo dia.
Nos períodos de escuridão, os animais não chegam a hibernar, mas baixam consideravelmente os seus gastos metabólicos. Ou seja, ficam bem menos ativos, como que economizando energia por vários meses.
"A vida desses animais seria muito difícil no Ártico se eles tivessem um relógio interno diário forte", diz Andrew Loudon, zoólogo da Universidade de Manchester e um dos autores do estudo, que foi publicado na revista "Current Biology".
Segundo os pesquisadores, os povos humanos do Ártico só não desenvolveram a mesma característica porque chegaram à região relativamente cedo, em comparação com as renas. A evolução pode levar centenas de milhares de anos para moldar uma adaptação assim.
 http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u706889.shtml

Rato gordo prejudica pesquisas médicas

16/03/2010 - 13h29

Rato gordo prejudica pesquisas médicas, afirmam cientistas

REINALDO JOSÉ LOPES
da Folha de S. Paulo
Um espectro ronda o mundo da pesquisa biomédica: o rato gordo. Ou os "roedores de laboratório metabolicamente mórbidos", para usar a terminologia de um artigo recente na revista científica "PNAS".
De acordo com o estudo, camundongos e ratos sedentários e acima do peso, correspondentes à maioria das cobaias criadas hoje, seriam péssimos análogos do organismo humano normal, o que poderia atrapalhar um bocado testes de medicamentos e terapias nos bichos.
O alerta partiu de um quarteto de cientistas liderados por Mark Mattson, do Instituto Nacional de Pesquisas sobre Envelhecimento (EUA). Se o grupo estiver correto, será preciso implantar uma série de medidas simples, mas hoje não muito comuns (como controlar a alimentação dos roedores e garantir que eles façam exercício e tenham momentos de "lazer") para que os resultados das pesquisas com animais melhorem sua confiabilidade.
"Quando conversei com outros cientistas mundo afora sobre os nossos achados e mostrei que os animais deles comiam demais, eram sedentários e pré-diabéticos, eles responderam dizendo que nunca tinham considerado esse fato ao projetar seus estudos ou ao interpretar seus dados", contou Mattson à Folha, por e-mail.

Editoria de Arte/Folha Imagem/Fernando Gonzales  


À vontade até demais
Os roedores de laboratório são afetados pela relativa falta de rodinhas de exercício e de brinquedos que possam estimular as capacidades cognitivas dos bichos. Soma-se a isso a chamada alimentação "ad libitum" ("à vontade", em latim): com comida sempre disponível, a tendência é eles acabarem se entupindo de ração.
Mattson e seus colegas compilaram dados sobre a saúde dos bichos confinados. Também fizeram seu próprio experimento, comparando ratos gorduchos com bichos cuja comida foi controlada. A pressão dos bichos comilões era 15% mais alta que a dos sob dieta. O nível de glicose no sangue era 20% maior, e o de colesterol correspondia quase ao dobro.
O resultado, previsível, é que o organismo de um roedor de laboratório "normal" (o que come demais e não se exercita) é muito diferente do de um bicho mais ativo e menos comilão.
Isso pode significar, entre outras coisas, que um remédio feito para tratar determinada doença humana simulada nos roedores (por meio de uma modificação genética, por exemplo) vai acabar atuando sobre os sintomas do sedentarismo e do excesso de peso, e não sobre a doença em si. Ou seja: o que funciona num rato gordo muito provavelmente não funcionará num humano de peso normal.
"O ponto levantado na pesquisa é relevante", diz Marcelo Nóbrega, geneticista pernambucano que trabalha na Universidade de Chicago (EUA).
"Ratos e camundongos entraram na pesquisa biomédica como modelos da biologia humana, tinham um número grande de semelhanças, desenvolvem doenças parecidas etc. Mas, à medida que iam sendo mais e mais utilizados, ficou claro que estavam longe de ser um modelo ideal. Se o que nós consideramos um animal normal não passa de um bicho com sérios desbalanços metabólicos e comportamentais, há a possibilidade de que isso distorça os resultados dos experimentos."
Já Valderez Valero-Lapchik, especialista em animais de laboratório da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), vê com ceticismo as conclusões do estudo americano. "Os dados dos nossos animais não batem com os que eles apresentam. Seria desperdício gastar drogas em animais com muita gordura, porque o tecido adiposo pode absorver os medicamentos."
Ela também discorda da ideia de usar como parâmetro bichos mais ativos e mais magros, levando em conta o aumento de pessoas acima do peso e sedentárias na população de hoje. "Animais que se exercitam simulariam melhor atletas."

Fernando Gonzales
O biólogo Sérgio Greif argumenta que pesquisas com animais só ajudam a aumentar o número de pesquisas, não sua qualidade

Animais não servem
O questionamento sobre a validade científica de experimentos nos roedores chama a atenção para outro ponto: o uso de animais em geral para a busca de avanços pela saúde humana.
"O que cabe questionar é se camundongos e ratos que não estejam acima do peso são bons análogos do organismo humano normal", afirma o biólogo Sérgio Greif, do grupo Sociedade Vegana e coautor do livro "A Verdadeira Face da Experimentação Animal".
Ele argumenta que "a extrapolação de dados entre espécies não tem base científica; pesquisas com animais apenas favorecem a quantidade de pesquisas possíveis de serem realizadas, não sua qualidade."
"Quando comparamos dados obtidos de ratos e camundongos com dados obtidos de seres humanos vemos que a extrapolação de dados não é de forma alguma algo científico". De acordo com o biólogo, "as diferenças genéticas mostram que ratos não são seres humanos em miniaturas, mas organismos completamente diferentes no que se refere ao seu metabolismo, à sua fisiologia e à forma como seus organismos respondem aos diferentes estímulos.
Ele cita diferentes métodos substitutivos, como: sistemas biológicos in vitro, cromatografia e espectrometria de massa, farmacologia e mecânica quânticas, estudos epidemiológicos, estudos clínicos de moléstias em populações diversas, necrópsias e biópsias humanos, simulações computadorizadas, pesquisas genéticas, entre outras.
Além da questão científica em si, George Guimarães, presidente do grupo de defesa dos direitos animais Veddas, aponta outro contra-argumento: "Consideramos isso [uso de animais] inaceitável do ponto de vista moral e ético, uma vez que esses animais não escolheram ser usados para servir aos nossos interesses."
O representante da Interniche (International Network for Humane Education) no Brasil, o biólogo e psicólogo Luís Martini, estima que ainda mais de 115 milhões de animais sejam usados por ano no mundo em experimentos e testes.
Com colaboração de MAURÍCIO KANNO, para a Folha Online

segunda-feira, 15 de março de 2010

Gene confere naturalmente infravermelho para cobras

15/03/2010 - 09h00

Gene confere naturalmente radar infravermelho para cobras

RICARDO BONALUME NETO
da Folha de S. Paulo
O mecanismo celular que permite ao paladar humano identificar algumas substâncias irritantes é o mesmo que, nas cobras, evoluiu para lhes dar a capacidade de localizar presas por meio da radiação infravermelha, afirmam biólogos.
O gene responsável pelas características distintas, segundo um novo estudo, é o mesmo que acabou apelidado de "receptor de wasabi", o forte condimento da culinária japonesa que faz pessoas chorarem se colocarem muito dele no sushi.
Uma equipe de pesquisa nos EUA mostrou agora que o gene equivalente está por trás da capacidade das cobras de localizarem outros animais pelo seu calor que libera infravermelho.
Que as serpentes detectam outros animais usando essa radiação já é algo bem conhecido, mas até agora não se conhecia em detalhe o mecanismo pelo qual elas usam essa espécie de "sexto sentido".

Julius Lab/UCSF  
Foto mostra camundongo detectado pelo mesmo espectro de radiação infravermelha percebido por serpentes

O novo estudo, liderado por David Julius, da Universidade da Califórnia em San Francisco, mostrou finalmente a base molecular dessa habilidade: o gene batizado de TRPA1. Seu trabalho saiu ontem no site da revista científica "Nature" (www.nature.com).
O detector de calor das cobras é um órgão chamado fosseta loreal, localizado entre as narinas e os olhos, um em cada lado da cabeça. "Suspensa dentro de cada uma dessas câmaras ocas está uma membrana fina que serve como uma antena para infravermelho", explicam Julius e colegas.
Privilegiadas
Nem todas as cobras têm essa capacidade. A mais eficiente é uma espécie de cascavel dos EUA e do México, a Crotalus atrox, estudada pela equipe de pesquisadores. Algumas cobras não venenosas, como as jiboias e as pítons, também detectam infravermelho, mas com sensibilidade entre cinco a dez vezes menor do que as cascavéis.
A pesquisa demonstra também que a detecção da radiação infravermelha se dá de modo diferente do que acontece com a visão da luz comum. No olho, é a luminosidade que ativa substâncias chamadas opsinas, que a convertem em um sinal eletroquímico. No caso da fosseta loreal, a informação captada do ambiente é convertida por um mecanismo térmico.
Na maioria dos sentidos, células receptoras especializadas detectam o estímulo do ambiente e transmitem sinais para fibras nervosas adjacentes, lembram os autores do estudo. Mas no caso da fosseta, terminais nervosos são eles próprios os detectores da radiação.
A diferença de sensibilidade ao infravermelho entre jiboias e cascavéis fizeram os biólogos questionarem se o "receptor de wasabi" teria o mesmo papel nos dois grupos de ofídios.
Eles lembram que essas duas cobras se separaram há 30 milhões de anos na história da evolução dos seres vivos. Apesar das diferenças, porém, se constatou que o TRPA1 tinha o mesmo papel na duas serpentes.