sábado, 5 de junho de 2010

Fim da picada

Fim da picada

Após quatro anos de pesquisa, brasileiros criam primeiro soro antiveneno de abelhas do mundo. O antídoto é uma esperança para reduzir os danos causados por ataques de enxames, que podem ser fatais. Mas ainda não é uma solução para alérgicos ao inseto.
Por: Larissa Rangel
Publicado em 31/05/2010 | Atualizado em 31/05/2010

 O soro desenvolvido promete ser a solução para casos de ataques de enxame. Ele não servirá, contudo, para tratar pessoas alérgicas ao inseto (foto: Ignacio Conejo – CC BY-NC-SA 2.0).  

Pesquisadores do Instituto de Investigação em Imunologia, que faz parte do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (iii-INCT), em parceria com o Instituto Butantan, acabam de desenvolver um soro antiveneno de abelhas, o primeiro no mundo.
O antídoto pode ser eficaz no tratamento de altas quantidades de veneno, em casos de ataques de enxames, que causam a síndrome de envenenamento – doença que pode levar à morte.

O soro surgiu a partir do projeto de doutorado de Keity Souza Santos, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Ele funciona contra o veneno da espécie Apis mellifera, também conhecida como africanizada, e muito comum no Brasil.
Depois de quatro anos de estudo, a bióloga conseguiu desenvolver a substância seguindo modelo semelhante ao soro antiofídico (contra ataques de cobras). Com a patente que acaba de ser concedida, o país pode se tornar um exportador do produto, estimulando a sua produção.

Anticorpos de cavalos

Para obter o antídoto, os pesquisadores usaram o plasma do sangue de cavalos. Keity explica que poderiam ser usados cabras ou coelhos, mas, devido ao seu porte e à quantidade de antídoto que podem gerar, os cavalos são preferidos.

O processo começa com a injeção do veneno de abelha, no mesmo processo desenvolvido com o veneno de serpentes. Logo em seguida, o cavalo produz anticorpos específicos, que são armazenados para constituir o soro. “Por cada animal, são coletados cerca de dois litros de antídoto”, conta a pesquisadora.
A primeira etapa do processo foi fazer um levantamento das 134 proteínas presentes no veneno. Dessa forma, foi possível conhecer todos os mecanismos de ação para neutralizar as reações tóxicas que ele gera.
Depois, foram recolhidas amostras do sangue do cavalo para obter o plasma e analisá-lo em laboratório. Garantida a segurança da solução, o plasma foi então purificado e processado até chegar ao produto final.

 A espécie 'Apis mellifera', conhecida como abelha africanizada, é a mais comum no Brasil (foto: Jônatas Cunha – CC BY-SA 2.0).


Soro não serve para alérgicos

Apesar de sua eficácia nos ataques de enxames, onde há o acúmulo de grandes quantidades de veneno, o soro não será uma solução para pessoas alérgicas ao animal. “Para um alérgico, não há diferença se ele foi atacado por uma ou por várias abelhas. A reação é desencadeada pela simples presença do antígeno encontrado no veneno, e o soro não vai parar esse processo”, observa Keity.

A solução para quem tem alergia é fazer um tratamento específico para desenvolver uma tolerância às substâncias que compõem o veneno, bloqueando as reações que o próprio organismo desenvolve.
O soro resolve, portanto, as sérias complicações decorrentes de uma ‘overdose’ de veneno, uma vez que é o próprio anticorpo pronto e em quantidades concentradas.
Estima-se que ocorram 15 mil ataques de abelhas por ano no Brasil, tendo causado cerca de 140 mortes nos últimos dez anos. O novo soro deve mudar esse quadro em breve. Ele deve começar a ser produzido ainda este ano pela Fundação Butantan. Os pesquisadores aguardam apenas os testes finais de homogeneidade e certificação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O produto será distribuído principalmente para os hospitais públicos.

Larissa Rangel
Ciência Hoje On-line
http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2010/05/fim-da-picada

Um comentário:

Anônimo disse...

olha eu adorei saber que a ciência esta evoluindo..esse soro com certeza vai ajudar muitas pessoas que trabalha..e que são atacadas...