terça-feira, 29 de junho de 2010

Álcool pode prejudicar fertilidade

Mulheres que bebem na gravidez podem prejudicar fertilidade dos filhos

Em estudo, concentração de esperma foi 32% menor em grupo onde houve maior consumo de álcool

29 de junho de 2010 | 20h 19
 
Mulheres que bebem durante a gravidez podem prejudicar a fertilidade futura de seus filhos, segundo afirmaram pesquisadores dinamarqueses em conferência da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia.
Em um estudo com quase 350 homens jovens, os níveis de espermatozoides eram um terço menor naqueles cujas mães tinham bebido mais do que quatro doses por semana durante a gestação, em comparação às abstêmias.

Marcio Fernandes/AE
 Quem bebe na gravidez pode ter filhos inférteis

De acordo com os pesquisadores, esses homens podem ter mais dificuldade para ter um filho. Especialistas britânicos afirmam que o álcool pode não ser o problema, mas um conjunto de fatores.
O conselho atual é evitar o álcool durante a gravidez, mas aquelas que não o fazem são aconselhadas a não beber mais que uma ou duas doses de álcool, uma ou duas vezes por semana.
O estudo analisou homens, atualmente com idades entre 18 e 21 anos, cujas mães tinham participado de um grande estudo sobre estilo de vida quando estavam grávidas deles.
Os pesquisadores disseram durante a conferência que dividiram os homens em quatro grupos: aqueles cujas mães não beberam nada; os cujas mães bebiam de uma a uma dose e meia por semana; de duas a quatro doses por semana; e mais de quatro doses por semana.
Uma dose foi classificada como uma cerveja, um copo pequeno de vinho ou uma dose de destilado.
Quando os pesquisadores analisaram a quantidade de espermatozoides nas amostras de sêmen dos participantes, descobriram que aqueles com a maior exposição ao álcool no útero tinham concentrações médias de 25 milhões por mililitro em comparação a 40 milhões/ml naqueles cujas mães não beberam álcool.
Após verificarem fatores que poderiam influenciar o esperma, como fumo e histórico médico, eles calcularam que a concentração de esperma média foi 32% menor no grupo com maior consumo de álcool em relação ao grupo abstêmio.
 http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,mulheres-que-bebem-na-gravidez-podem-prejudicar-fertilidade-dos-filhos,573853,0.htm

domingo, 27 de junho de 2010

Hepatite C e atividade sexual

Pesquisa relaciona vírus da hepatite C com número de parceiros sexuais

Estima-se que portadores de VHC no País sejam até 3,5% da população; não existe vacina disponível

24 de junho de 2010 | 16h 42

Agência Fapesp
SÃO PAULO - O vírus da hepatite C (VHC), descoberto em 1989, já infectou cerca de 170 milhões de pessoas em todo o mundo, mas 40% dos eventos de transmissão não têm causa conhecida.
Um novo estudo, liderado por pesquisadores brasileiros e realizado com amostras de sangue de pacientes do Estado de São Paulo, mostra pela primeira vez que fatores sociais podem ter um papel central nos padrões de disseminação do vírus.
O trabalho, publicado na edição desta quinta-feira, 24, da revista científica de acesso livre PLoS ONE, revela que os diversos genótipos do vírus entraram em território paulista em diferentes momentos e tiveram taxas de crescimento distintas.
A pesquisa indica ainda que a transmissão está relacionada com a rede de contatos sociais entre os indivíduos, direcionando-se para grupos com determinado tipo de comportamento.
O trabalho é um dos resultados da Rede de Diversidade Genética Viral (VGDN), formada por dezenas de laboratórios espalhados pelo Estado de SP que estudam as variedades genéticas de vírus. Lançada em 2000 como decorrência do Programa Genoma Fapesp, a rede é financiada pela fundação.
De acordo com Paolo Zanotto, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP), autor principal do artigo e um dos coordenadores da VGDN, o estudo se baseou em sequências genéticas extraídas de amostras de sangue de 591 pacientes de cidades paulistas.
"O padrão predominante dos estudos de epidemiologia tem um viés clínico, mas procuramos entender qual é o papel da interação social na disseminação da doença. Um dos dados que tínhamos à disposição era o número de parceiros sexuais dos pacientes e, a partir daí, percebemos claramente que o número de contatos sexuais - que reflete a conectividade das pessoas nas malhas sociais - é claramente um fator fundamental para a transmissão do vírus", disse Zanotto à Agência Fapesp.
Estima-se que os portadores do VHC no Brasil correspondam a até 3,5% da população. Não existe vacina disponível para a hepatite C e o tratamento para a doença consiste em antivirais que têm baixa eficácia e provocam efeitos colaterais. "Por isso é tão importante entender a dinâmica de transmissão do vírus e investir em prevenção", disse Zanotto.
O estudo mostrou que o subtipo 1b do VHC é o mais antigo e avançou mais lentamente que os subtipos 1a e 3a, em múltiplas classes sociais e faixas etárias. Por outro lado, os subtipos 1a e 3b estão associados a pessoas mais jovens, infectadas mais recentemente, com taxas mais altas de transmissão sexual.
"A dinâmica da transmissão do VHC em São Paulo varia de acordo com o subtipo e é determinada por uma combinação de idade, exposição ao risco e características da rede social. Os fatores sociais têm um papel fundamental nas taxas e nos padrões de disseminação. A definição desses grupos de risco será fundamental para orientar políticas públicas de prevenção", disse Zanotto.

Vivi Zanatta/AE
 Estudo relaciona vírus com número de parceiros

Segundo o cientista, ao utilizar o número de contatos sexuais como indicador do tamanho da rede social em que os pacientes estão inseridos, foi possível observar que os subtipos mais recentes do vírus circulam entre indivíduos com mais conexões, potencializando o número de pessoas expostas.
"Outro aspecto observado é que os pacientes com maior número de conexões praticam mais comportamentos de risco, como uso de drogas e sexo desprotegido. A associação entre a transmissão, a alta conectividade social e a transmissão do vírus não havia sido observada até agora porque a maior parte dos trabalhos se restringia a analisar dados provenientes de grupos de risco, mas nós optamos por uma amostra aleatória", explicou.
Os diferentes subtipos do VHC entraram no Estado de São Paulo em diferentes momentos, segundo o estudo. O subtipo 1b infectava pessoas nascidas antes da década de 1930. Já o subtipo 3a entrou em cena no meio da década de 1950 e começou a se espalhar rapidamente.
"No passado, o vírus foi disseminado principalmente por transfusão de sangue contaminado. Mas em 1990 foram implantados os testes anti-VHC em bancos de sangue e ele continuou se espalhando. O uso de drogas injetáveis é certamente importante para a transmissão, como a transfusão sanguínea já foi. Mas constatamos que grande parte dos novos casos não envolve essa prática, e o vírus continua se espalhando", disse Zanotto.
O subtipo 1a teve seu crescimento acelerado por volta de 1990, mesmo com o fim da contaminação por transfusão de sangue e, segundo o estudo, já é o segundo subtipo mais comum, devendo superar em breve o subtipo 1b.
"O subtipo 1a está associado às pessoas jovens com muita conectividade sexual. Outras características comuns nesse grupo são o uso frequente de drogas, prática de sexo desprotegido, tatuagens e encarceramento", afirmou.
Estratificação comportamental
O estudo detectou ainda uma correlação do crescimento acelerado dos subtipos mais recentes com a densidade populacional do Estado de São Paulo no período em que os vírus foram introduzidos.
"O aumento populacional favorece o maior número de conexões sociais. Como em qualquer rede social, essas conexões se estabelecem por associação preferencial. Isso é, as pessoas estabelecem mais relações com quem tem comportamentos parecidos. Por isso, têm mais chances de se conectar a indivíduos que já são muito conectados", disse Zanotto.
O cientista explica que a distribuição do número de parceiros sexuais segue uma lei de potência que indica grande assimetrias nos padrões de conectividade entre os indivíduos. "A maior parte das pessoas tem entre duas e cinco conexões nessa rede de contatos sexuais. Mas alguns indivíduos chegam a ter alguns milhares de conexões. Diferentes subtipos de vírus infectam esses diferentes grupos", afirmou.
Segundo Zanotto, o estudo mostrou que as políticas de prevenção devem ser voltadas para os indivíduos que estão altamente conectados. "Não podemos garantir que a conectividade sexual explique a disseminação da hepatite C, mas há uma clara correlação. Não sabemos se a sexualidade é um indicador, ou uma via de transmissão, mas onde há fumaça há fogo. Se o sexo não é o fator de transmissão, trata-se pelo menos de algum fator associado à grande conectividade sexual. O fato é que há uma clara estratificação comportamental nos padrões de transmissão", disse.
http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,pesquisa-relaciona-virus-da-hepatite-c-com-numero-de-parceiros-sexuais,571513,0.htm

Teste de visão pelo celular

Dispositivo permite fazer teste de visão pelo celular

Aparelho desenvolvido pelo MIT é acoplado à tela do telefone e examina os olhos em 2 minutos

SÃO PAULO - Uma equipe do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT), nos EUA, desenvolveu um dispositivo que torna possível fazer exame oftalmológico pelo celular, por um preço entre US$ 1 e US$ 2. 

web.mit.edu
 
Quando chegar ao mercado, Netra pode sair por até US$ 2 

Para o teste funcionar, é preciso usar um aparelho plástico acoplado à tela do telefone. O paciente, então, olha por uma pequena lente e pressiona as teclas do celular até que duas linhas verde e vermelha, paralelas, se sobreponham.
O processo é repetido por oito vezes para cada olho, em diversos ângulos. O tempo de duração total é inferior a 2 minutos. Por fim, o software instalado no telefone fornece os dados sobre as lentes necessárias para corrigir o problema de visão.
O principal responsável pelo estudo, que contou com a participação de 20 voluntários para testes preliminares, é o pesquisador Vitor Pamplona, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O time, orientado pelo professor Ramesh Raskar, do MIT, conta ainda com o professor visitante Manuel Oliveira, também da UFRGS, e o PhD Ankit Mohan.
"Nosso dispositivo tem potencial para fazer exames de refração ocular de rotina mais simples e barato, e, portanto, mais acessível a milhões de pessoas nos países em desenvolvimento", diz Oliveira.
O aparelho, chamado Netra (Near-Eye Tool for Refractive Assessment), usa um sistema óptico derivado de códigos de barra produzidos no ano passado por alguns membros da equipe. O trabalho será apresentado em julho na conferência anual de computação gráfica Siggraph. Ainda não há previsão de o Netra chegar ao mercado.
Dois bilhões de pessoas têm problemas de refração, como miopia, hipermetropia e astigmatismo, e, segundo a Organização Mundial da Saúde, esses desvios não corrigidos são a segunda maior causa de cegueira no mundo, atingindo 2% da população mundial.
http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,dispositivo-permite-fazer-teste-de-visao-pelo-celular,571578,0.htm

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Juntando as peças - entendimento de um tipo de tumor de cérebro.

Juntando as peças

Pesquisadores desenvolvem método computacional capaz de identificar com mais eficácia proteínas em amostras biológicas. A técnica está sendo usada para o entendimento de um tipo de tumor de cérebro.
Por: Debora Antunes
Publicado em 22/06/2010 | Atualizado em 23/06/2010

 A imagem de ressonância magnética mostra a regressão de um tumor de cérebro ao longo de 6 meses de tratamento com álcool perílico. O método criado por brasileiros ajuda a entender como surge a resistência a esse quimioterápico (foto: Clóvis O. Fonseca).  

 Após o sequenciamento do genoma humano, laboratórios de todo o mundo têm se dedicado à tarefa de identificar as proteínas expressas por nossos genes em diferentes circunstâncias. O estudo do proteoma humano, como é chamado pelos pesquisadores, tem no espectrômetro de massas um de seus grandes aliados. Esse equipamento é capaz de fragmentar proteínas e identificar sua composição.
Identificar as milhares de proteínas presentes em misturas complexas como fluidos biológicos é um grande desafio para os pesquisadores. Até o momento, o espectrômetro de massas do tipo orbitrap, usado nessa operação, só era capaz de analisar um fragmento de proteína por vez.
Agora, uma nova metodologia desenvolvida por pesquisadores brasileiros permite que mais de um fragmento proteico seja analisado simultaneamente, o que aumenta a eficácia desse procedimento. O novo método foi apresentado em um artigo publicado no início do ano no periódico Bioinformatics.


O método foi desenvolvido pelo engenheiro de computação Paulo Costa Carvalho, que atualmente conduz pesquisas no Laboratório de Toxinologia da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
A metodologia computacional proposta por ele reconhece padrões nos dados de espectrometria de massa e permite a análise simultânea de mais de um fragmento proteico por vez.
“Com a nova metodologia, somos capazes de identificar e melhor quantificar proteínas que antes não era possível estudar”, explica Carvalho. A técnica pode ser usada, por exemplo, para investigar as diferenças em escala molecular entre células sadias e com câncer. O método também poderá ajudar na pesquisa para o desenvolvimento de novos diagnósticos e na medicina personalizada.
O projeto foi desenvolvido durante o doutorado-sanduíche de Carvalho no Instituto de Pesquisa Scripps, na Califórnia (EUA), juntamente com o grupo do químico norte-americano John R. Yates e com o pesquisador Valmir Barbosa, do programa de engenharia de sistemas da Coppe/UFRJ).

No vídeo abaixo, Paulo Costa Carvalho
destaca a importância de se conhecer as
proteínas associadas a doenças variadas:

 

Para entender o câncer

Dentre as doenças que já estão sendo estudadas com a nova técnica, encontra-se um tipo de câncer no cérebro conhecido como glioblastoma multiforme. A engenheira química Juliana de Saldanha da Gama Fischer, pesquisadora do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde da Fiocruz que também fez doutorado-sanduíche no Instituto Scripps, vem usando a metodologia para estudar os efeitos do quimioterápico álcool perílico em pacientes terminais com esse tipo de tumor.
O álcool perílico, composto encontrado naturalmente em óleos essenciais de menta, cereja, semente de aipo e outros vegetais, vem sendo adotado para tratar estágios avançados de glioblastoma no Brasil praticamente sem efeitos colaterais.  Inicialmente, os pacientes apresentam uma redução do tumor. Com o passar do tempo, no entanto, o tumor pode adquirir resistência ao medicamento e deixar de responder ao tratamento.


Esse impasse levou Fischer a identificar e analisar em laboratório as pequenas diferenças apresentadas entre as células tumorais resistentes e não resistentes à droga.
Os resultados, publicados em março no periódico Journal of Proteomics, permitiram identificar proteínas que podem estar relacionadas com a resistência do tumor.
O método tem permitido entender a ação do álcool perílico sobre as proteínas das células cancerosas. “Compreender melhor os mecanismos de resistência do glioblastoma multiforme a esse quimioterápico ajuda a desenvolver tratamentos mais efetivos contra essa doença”, explica Fischer.  Mas a engenheira química ressalta que ainda é cedo para pensar em cura para casos terminais desse tipo de câncer cerebral.
O estudo de Fischer contou ainda com a participação de Clóvis Orlando da Fonseca, da Universidade Federal Fluminense, de Gilberto Domont e Maria da Glória, ambos da UFRJ.

Debora Antunes
Ciência Hoje On-line
http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2010/06/juntando-as-pecas

Células-tronco restaura visão em olhos queimados

24/06/2010-11h15

Transplante de células-tronco restaura visão em olhos queimados


A maioria dos pacientes sofreu queimaduras em apenas um olho. Isso facilitou o trabalho, pois a equipe de Pellegrini pode tratá-los com células-tronco de córnea extraídas do olho saudável.
As células-troncos foram obtidas do limbo, disco próximo à íris, parte colorida do olho. As células restauraram a transparência das córneas, que haviam ficado opacas devido a destruição da reserva de células-tronco nos olhos afetados.
Os resultados, publicados no periódico "The New England Journal of Medicine", são uma boa notícia para pesquisadores de células-tronco. Recentemente, um paciente morreu após receber um tratamento experimental, o que levantou dúvidas sobre a segurança desse tipo de abordagem.
 http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/756399-transplante-de-celulas-tronco-restaura-visao-em-olhos-queimados.shtml

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Adiada por 1 ano a caça comercial de Baleias pela (CBI).

23/06/2010-13h26

Comissão Baleeira adia em um ano negociação sobre caça comercial

terça-feira, 22 de junho de 2010

Redução de obesidade sem cirurgia.

22/06/2010-10h56

Nova técnica reduz obesidade sem cirurgia


Um novo procedimento pode ajudar pacientes obesos a perder peso e até evitar a cirurgia de obesidade, além de controlar o diabetes.
Trata-se de uma técnica endoscópica, que insere via oral uma espécie de revestimento de 62 centímetros no início do intestino delgado da pessoa. Isso impede a absorção de comida naquela região. O alimento, então, vai do estômago diretamente para a porção final do intestino.
A técnica vem sendo testada com sucesso há mais de um ano no Hospital das Clínicas de São Paulo em 78 pacientes, que perderam, em média, 30% do peso. Uma redução de 10% já é considerada significativa pelos médicos.
A prótese colocada é de um material plástico maleável. Ela é deixada no organismo por cerca de um ano. Nesse período, o paciente passa por reeducação alimentar e mudança de hábitos de vida, incluindo prática de atividade física. Isso evita que ele recupere o peso perdido.
OBESOS MÓRBIDOS
Todos os pacientes avaliados eram obesos mórbidos (tinham índice de massa corporal acima de 35), portadores de diabetes e doenças associadas. Eles haviam se candidado à cirurgia bariátrica (de obesidade), porque não conseguiam perder peso com métodos não cirúrgicos.
Embora a nova técnica seja indicada para quem precisa perder peso antes da cirurgia de obesidade, alguns dispensaram a operação após o resultado obtido.
Além disso, 90% deles conseguiram manter o diabetes sob controle. Os resultados mostraram que houve redução no uso de remédios pelos pacientes -20% deixaram de usar drogas antidiabéticas. Os níveis de colesterol e triglicérides também se normalizaram.
VIDA NORMAL
O procedimento é feito com anestesia geral e dura de 15 a 20 minutos. O índice de complicações é baixo.
"Depois, o paciente leva vida normal, apenas toma suplementos vitamínicos para compensar os nutrientes que deixam de ser absorvidos", diz Eduardo Guimarães Hourneaux de Moura, um dos líderes do trabalho, diretor do serviço de endoscopia gastrointestinal do Hospital das Clínicas e professor de gastroenterologia da Faculdade de Medicina da USP.
"Em dois anos, a técnica deve estar disponível e deve se tornar um furor", acredita.
A ideia da prótese surgiu nos Estados Unidos, mas lá só foi testada em animais. O grupo brasileiro é um dos três únicos do mundo a fazer pesquisas em pessoas.
"Possivelmente, vai ser um grande auxílio para esses pacientes, mas ainda não temos resultados a longo prazo", avalia Thomas Szegö, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica. "A curto prazo, os resultados são muito interessantes."

arte Folha de S.Paulo/arte Folha de S.Paulo

http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/755066-nova-tecnica-reduz-obesidade-sem-cirurgia.shtml

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Répteis marinhos de sangue quente

Répteis marinhos de sangue quente

Como determinar o metabolismo de espécies extintas? Uma análise de isótopos mostrou que alguns répteis marinhos pré-históricos conseguiam controlar a temperatura interna, ao contrário de seus distantes parentes atuais.
Por: Alexander Kellner
Publicado em 21/06/2010 | Atualizado em 21/06/2010

  Reconstrução de um plesiossauro coletado pela equipe do Museu Nacional/UFRJ na Antártica, feita pelo paleoescultor Orlando Grillo (foto: Alexander Kellner).

Saber como funcionava o metabolismo de animais extintos é sempre um problema, sobretudo quando pertencem a grupos que não deixaram descendentes. Este é o caso dos répteis marinhos que dominaram os mares durante a era Mesozóica, enquanto seus parentes distantes – os dinossauros – predominavam em terreno firme.
Uma pesquisa liderada por Aurélien Bernard, da Universidade de Lyon (França), acaba de ser publicada na Science e parece ter solucionado o problema ao empregar uma técnica bem interessante: a análise de isótopos de oxigênio encontrado em fósseis de répteis marinhos, e sua comparação com os de peixes da mesma época.

 Reconstrução de um ictiossauro exposto no Museu de História Natural de Stuttgart, na Alemanha (foto: Alexander Kellner).

Os três principais grupos de répteis que dominaram os mares da era Mesozoica são: os ictiossauros, os plesiossauros e os mosassauros. Curiosamente, os três se originaram de espécies terrestres, tendo, de forma independente, conquistado os mares entre o período Triássico e o Cretáceo (há cerca de 250-65 milhões de anos), quando se extinguiram.
Os ictiossauros, cujo tamanho variava de um a 16 metros, foram talvez os que melhor se adaptaram ao ambiente aquático. Tinham uma forma semelhante à de um golfinho atual, incluindo a grande nadadeira na parte dorsal do corpo.
Os plesiossauros, caracterizados por terem um pescoço maior do que os demais répteis marinhos, podiam ter de dois a 14 metros de comprimento. Devido ao formato de seus membros anteriores e posteriores, que pareciam poderosos remos, acredita-se que esses répteis ‘voavam’ dentro da água.
Por último, temos os mosassauros, que pertencem ao grupo dos lagartos marinhos. Tipicamente, atingiam tamanhos de três a seis metros, apesar de também terem sido registradas formas gigantescas.

 Um esqueleto de plesiossauro em exposição no Museu de Ciência de Tóquio (foto: Alexander Kellner).

Frio demais para répteis

De acordo com o registro fóssil, os ictossauros, plesiossauros e mosassauros foram encontrados em águas frias, preservados em depósitos na Austrália e até mesmo na Antártica. Nesse tipo de ambiente frio, répteis tipicamente ectotérmicos não conseguem se adaptar – o registro fóssil de espécies de tartarugas e crocodilomorfos, por exemplo, é inexistente perto dos polos.
É verdade que, durante o Cretáceo, as temperaturas médias do planeta eram maiores que as atuais – há quem defenda que não existiam as capas polares de gelo como hoje em dia. Mesmo assim, estudos paleoambientais demonstraram que a temperatura da água podia ser bastante fria, chegando a valores negativos.

Tal fato intrigou os cientistas, que começaram a pensar que alguns répteis marinhos do passado podiam ter um metabolismo diferente da maioria dos répteis.
De uma maneira bem simplificada, podemos separar os animais em seres endotérmicos e ectotérmicos, de acordo como o seu metabolismo. Fala-se em endotermismo quando o animal consegue gerar calor e manter a temperatura de seu corpo estável. Já os animais ectotérmicos – característica comum a todos os répteis de hoje –  obtêm a maior parte de seu calor corporal do meio ambiente.
As diferenças são facilmente perceptíveis. Assim como as vantagens: um animal que pode controlar a temperatura de seu corpo fica menos dependente do meio ambiente. Porém, isso tem um preço: um animal endotérmico precisa de mais energia, o que significa a necessidade de mais alimento, e de boa qualidade.

  Esqueleto de mosassauro em ambiente aquático, em exposição no Museu de História Natural de Stuttgart, na Alemanha (foto: Alexander Kellner). 

Peixes como termômetro

Para tentar estabelecer o metabolismo dos três grupos de répteis marinhos mencionados de forma mais empírica, Aurélien Bernard e seus colaboradores elaboraram um modelo muito interessante. Como já foi constatado experimentalmente, a presença de isótopos de oxigênio (no caso δ18O preservados em fosfato (que compõe ossos e dentes) está diretamente relacionada à temperatura do corpo (ou seja, ao metabolismo do animal) e à composição da água ingerida.

De uma forma simplificada, os cientistas mediram a composição do isótopo δ18O nos dentes de répteis marinhos e o compararam com o mesmo isótopo de ossos e dentes de peixes encontrados no mesmo depósito. O valor encontrado nos peixes deveria ser, segundo o estudo, bem parecido com o valor da temperatura da água onde esses animais viviam.
Assim, diferenças significativas entre os valores de isótopos encontrados indicariam diferenças entre a temperatura do corpo dos répteis marinhos e a do ambiente onde viviam.
Quanto mais parecidos os valores, maior a probabilidade de que o réptil em questão dependesse do ambiente para manter sua temperatura corporal; quanto mais díspares, maiores as chances de se presumir que o animal não dependia do ambiente para regular a temperatura do seu corpo – podendo, assim, ser considerado como endotérmico.

Os resultados

O estudo dos paleontólogos e geoquímicos demonstrou que as maiores diferenças entre os valores de isótopos estão nos ictiossauros e nos plesiossauros – ou seja, os dados indicam que eles eram endotérmicos, e que mantinham uma temperatura corporal constante estimada em 35º C (com até dois graus de variação para cima ou para baixo).

Nos mosassauros analisados, no entanto, os valores medidos indicam que esses répteis devem ter sido mais dependentes da temperatura do ambiente, sendo, portanto, ectotérmicos.
Os resultados obtidos nesse estudo parecem confirmar algumas ideias sobre os répteis marinhos. Os ictiossauros e os plesiossauros são considerados animais que podiam nadar por grandes distâncias, e, inclusive, perseguir suas presas.
Já os mosassauros são tidos como predadores que emboscavam as suas presas, o que indica que podiam, por curto espaço de tempo, nadar muito rapidamente para capturar peixes ou outros organismos, mas, caso não os alcançassem logo, perdiam o seu alimento.


O esquema reúne os principais grupos de répteis marinhos, mostrando como as formas ancestrais, ectotérmicas, foram dando origem as formas endotérmicas (imagem: reprodução/ Science).

 

 

 

Problemas e avanços

Como se pode imaginar, nem tudo são flores em um estudo assim. Entre os problemas em se basear na comparação de dados isotópicos está a possibilidade de os peixes não terem vivido exatamente no mesmo período que os répteis marinhos.

Ainda que encontrados em um mesmo depósito, as pequenas lâminas ou mesmo camadas que os separam podem significar uma variação de tempo de dezenas ou até centenas de anos. E nós sabemos que isso pode, em termos de temperatura, significar bastante.
Outro problema um pouco mais complexo é a possibilidade de os isótopos de oxigênio estudados terem sofrido modificações por influência dos processos formadores da rocha (conjuntamente denominados de diagênese).
Seja como for, o resultado de Aurélien Bernard e colegas é uma amostra da sofisticação do estudo da paleontologia. Técnicas refinadas com medições de elementos preservados nos esqueletos dos animais podem fornecer muitas informações sobre como viviam e funcionavam formas extintas.


Alexander Kellner
Museu Nacional/UFRJ
Academia Brasileira de Ciências

 

Paleocurtas

As últimas do mundo da paleontologia(clique nos links sublinhados para mais detalhes)

 http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/cacadores-de-fosseis/repteis-marinhos-de-sangue-quente

sábado, 19 de junho de 2010

Médicos testam sistema que alerta o ataque epilético.

Médicos testam sistema que alerta epilético antes de ataques

Médicos australianos estão testando um sistema com sensores elétricos dentro do crânio para alertar pacientes epiléticos antes que eles tenham ataques.
Os sensores enviam mensagens a um dispositivo implantado no peito do paciente, que por sua vez manda sinais a um pager que alerta o paciente sobre o ataque iminente.
Segundo Mark Cook, um dos integrantes da equipe do Melbourne St Vincent Hospital, em Melbourne, se funcionar, o sistema representará um “avanço impressionante”.
"Nunca imaginamos que seríamos capazes de prever ataques epiléticos dessa maneira", disse.
"Se funcionar como esperamos, (o sistema) vai transformar a vida de muitas pessoas."

  Técnica daria 'sinal de alerta' a paciente antes da crise

Eletricidade
A epilepsia é um distúrbio neurológico crônico que pode provocar convulsões repentinas, perda de consciência e outros sintomas.
Os eletrodos instalados dentro do crânio do paciente comunicam quaisquer mudanças na atividade elétrica do cérebro ao dispositivo no peito.
A ideia é que o aviso do pager dê ao paciente tempo suficiente para tomar remédios ou alertar amigos e a família.
A primeira pessoa a testar a nova técnica é Jason Dent, de 26 anos, que mora na cidade de Hobart, na Austrália.
Dent sofre de uma forma grave de epilepsia que não pode ser controlada com remédios ou procedimentos cirúrgicos.
Sua mãe, Helen Crossin, está esperançosa.
"Se soubesse que ele estava seguro, eu poderia relaxar um pouco mais", ela disse.
Crossin acrescentou que seria maravilhoso, para o filho, poder ter algum controle sobre a condição que o aflige a vida toda.
A companhia americana que está desenvolvendo o novo sistema disse esperar que ele esteja disponível no mercado dentro de cinco anos.
http://www.bbc.co.uk/portuguese/ciencia/2010/06/100615_epilepsia_mv.shtml

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Ética com experimento em animais de laboratório.

Engajamento no laboratório

Assista em primeira mão ao vídeo da campanha institucional promovida pela comunidade científica e pelo governo para conscientizar a população sobre a importância da experimentação com animais.
Por: Bernardo Esteves
Publicado em 17/06/2010 | Atualizado em 17/06/2010

 Animais de laboratório como o da imagem acima foram fundamentais para avanços nas pesquisas na área médica (foto: Rick Eh? / CC 2.0 BY - NC - ND). 

O vídeo abaixo será exibido pela televisão em todo o país a partir da próxima quarta-feira, 23 de junho. Ele faz parte de uma campanha publicitária lançada pelo governo em parceria com a comunidade científica para conscientizar a população da importância da experimentação com animais – tema que encontra resistência em alguns setores da sociedade.
"Hoje, quase todos os medicamentos, vacinas e procedimentos da área de saúde são resultado de pesquisas com animais de laboratório", lembra o filme, que mostra indivíduos que tiveram sua vida salva ou melhorada por avanços propiciados por essas pesquisas. A campanha defende ainda que os animais sejam tratados com ética e dignidade.

Além de anúncios para TV, rádio e mídia impressa, a campanha inclui ainda folhetos que serão distribuídos em várias capitais. A iniciativa deve ser divulgada também em redes sociais pela internet e no portal www.eticanapesquisa.org.br.

A campanha pretende dar visibilidade à chamada Lei Arouca. Sancionada em 2008 após anos tramitando no Congresso, ela regulamenta o uso de animais na pesquisa científica.
No entanto, isso não bastou para conter as manifestações de repúdio de organizações de defesa dos direitos dos animais.
A campanha será lançada oficialmente às 13h30 do dia 23, na sede da Academia Brasileira de Ciências.

Ética nas pesquisas

Um dos responsáveis pela campanha é o biólogo Marcelo Morales, pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e conhecido por seu engajamento na luta para convencer a sociedade da importância da experimentação com animais.
Morales foi um dos primeiros entrevistados do nosso podcast, o Estúdio CH. Na entrevista dada a Mariana Ferraz – concedida antes que a Lei Arouca passasse a vigorar –, ele justificou a importância da pesquisa com animais e destacou a forma como eles são tratados com dignidade pelos cientistas.
“Os cientistas [que utilizam animais em suas pesquisas] têm que ter um protocolo aprovado por um comitê de ética”, lembra o biólogo. “Se eles não utilizarem anestésico ou se os animais forem sofrer, esse protocolo não será aprovado. Esses animais são muito bem tratados, acondicionados em biotérios com ar refrigerado, com comida todo dia e água à vontade.”

Bernardo Esteves
Ciência Hoje On-line
http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2010/06/engajamento-pela-experimentacao-animal

domingo, 13 de junho de 2010

Cientistas criam primeiro anticorpo de plástico

11/06/2010-11h54

Cientistas criam primeiro anticorpo de plástico eficaz em organismo complexo


Anticorpos feitos inteiramente de plástico conseguiram salvar a vida de camundongos expostos a veneno de abelha. É a primeira vez que essa estratégia funcionou em animais.
Trata-se do primeiro passo para o desenho de anticorpos sob encomenda para uma gama de aplicações médicas, desde o tratamento de envenenamentos até o combate a infecções.
Anticorpos naturais são produzidos pelo sistema imune. Eles se ligam a moléculas específicas, chamadas "antígenos".
Os anticorpos de plástico, da mesma forma, contêm cavidades moldadas na forma exata para capturar moléculas-alvo.
Nesse caso, o alvo era a melitina, o componente mais tóxico do veneno de abelha.
Escultura
Kenneth Shea da Universidade da Califórnia, em Irvine, e sua equipe, produziram anticorpos contra melitina por meio de um processo de escultura molecular.
Eles usaram um catalisador para estimular a formação de polímeros ao redor de moléculas de veneno de abelha. Em seguida, dissolveram o veneno, deixando cavidades com o formato exato da melitina.
Shea injetou os anticorpos nos camundongos 20 segundos após a injeção de veneno. Todos os camundongos que não receberam tratamento morreram. Dos que receberam o anticorpo, 40% morreram.


Ação limitada
Anticorpos de plástico podem, de fato, imitar algumas das funções de anticorpos naturais: capturar toxinas e as enviar para o fígado para serem destruídas.
Mas outras funções de anticorpos naturais serão mais difíceis de imitar. Por exemplo, anticorpos naturais são capazes de se comunicar com outras células do sistema imune e preparar o corpo para futuras infecções, o que anticorpos de plástico não são capazes de fazer.
O estudo foi publicado no "Journal of the American Chemical Society".
http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/749296-cientistas-criam-primeiro-anticorpo-de-plastico-eficaz-em-organismo-complexo.shtml

Cérebro sob efeito de maconha deve fazer maior esforço

Cérebro se acostuma a efeitos da maconha, diz estudo

Segundo pesquisadores australianos, o principal componente da droga fica no corpo por semanas

11 de junho de 2010 | 15h 18
Efe
SYDNEY - O consumo de maconha afeta o funcionamento do cérebro, mas o organismo é capaz de se acostumar com os efeitos, segundo estudo científico publicado nesta sexta-feira, 11, na Austrália.

Tiago Queiroz/AE
Cérebro sob efeito de maconha deve fazer maior esforço

Pesquisadores da Universidade de Wollongong afirmam que o principal componente ativo da maconha, o tetraidrocanabinol (THC), fica no corpo durante semanas, por isso o cérebro das pessoas que usam habitualmente a droga está sempre exposto à substância.



Os cérebros dessas pessoas precisam fazer um maior esforço que os de outras que não consomem maconha para realizar as mesmas tarefas, e com o tempo chegam se habituar a isso, explicou o psicólogo clínico Robert Battista à rádio local "ABC".
Battista acrescentou que cérebro sob efeito da maconha se dá conta de que as conexões tradicionais deixaram de funcionar e cria novas.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Remédio ou veneno?

Remédio ou veneno?

Estudo investiga as propriedades terapêuticas da aninga, planta aquática comum na Amazônia. Os resultados mostram que as folhas absorvem metais e têm alto grau de toxicidade, mas podem, por outro lado, ajudar a combater a poluição.
Por: Larissa Rangel
Publicado em 09/06/2010 | Atualizado em 09/06/2010
A aninga (‘Montrichardia linifera’) é uma planta que vive em brejos e outros ambientes aquáticos. Ela é encontrada nas várzeas amazônicas e em diversos ecossistemas inundáveis como os igapós, margens de rios, furos e igarapés (foto: Cristine Amarante).  

A ciência amazônica está de olho na aninga, planta muito comum no litoral brasileiro e uma das principais espécies aquáticas da Amazônia. Pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA) e do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) resolveram investigar suas propriedades químicas e biológicas.
A pesquisa foi motivada pelo amplo uso terapêutico dessa espécie pela população ribeirinha da região. Relatos indicam que a aninga é adotada como cicatrizante de cortes profundos e para tratar picadas de cobra e ferroadas de arraia.

 Flor e frutos da aninga. As folhas e frutos dessa planta fazem parte da dieta de peixes, tartarugas, peixes-boi, capivaras, bois e búfalos (fotos: Cristine Amarante).

Além disso, a gosma liberada do pecíolo (haste que sustenta o limbo da folha) é aplicada sobre lesões avermelhadas na pele (impingem). Sua raiz é ainda usada por conta de suas supostas propriedades antidiuréticas, e suas folhas, para combater reumatismo e úlceras.
O estudo ainda não foi concluído, mas gerou resultados preliminares, publicados na Revista Científica da UFPA. As conclusões parciais atestam algumas das propriedades terapêuticas da aninga, mas confirmam também a fama que ela tem de ser uma planta venenosa.
“Sua seiva é urticante e causa queimaduras na pele e, em contato com os olhos, pode causar a cegueira”, explica a química Cristine Amarante, pesquisadora do MPEG e da UFPA e primeira autora do estudo.
Os pesquisadores coletaram amostras de folhas de aninga, que foram analisadas no Laboratório de Química da UFPA. Os testes mostraram, por exemplo, que as folhas conseguem inibir em mais de 80% o crescimento do parasita causador da malária, ou seja, têm atividade antiplasmódica.

Metais tóxicos

Por outro lado, os resultados revelaram também, pela primeira vez, que a espécie concentra quantidades de manganês superiores ao limite máximo tolerado pelo homem e até por mamíferos maiores, além de altas concentrações de cálcio e magnésio.
A recomendação dos autores é de muita cautela no uso dessa espécie. “A aninga é uma planta de ocorrência muito expressiva e, portanto, bastante acessível para a população ribeirinha, mas também pode ser perigosa”, pondera Cristine Amarante.
Segundo a pesquisadora, mesmo o uso tópico para tratar de lesões da pele requer cuidado, pois a seiva também pode causar queimaduras.
“A ingestão da aninga não é indicada, já que a alta quantidade de mineral tóxico poderá ser absorvida”, afirma a química. “O grande perigo está no chá que as pessoas fazem a partir da folha amarelada: a ingestão dessas substâncias pode causar doenças neurodegenerativas ou mesmo causar a morte por envenenamento”.

 Os pontos amarelados nas folhas da aninga são um possível sinal da toxicidade causada pelo acúmulo de manganês na planta (foto: Cristine Amarante).

Absorvente natural

A alta de concentração de metais nas folhas de aninga não é casual. Essa espécie funciona como um absorvente natural, incorporando grandes quantidades de manganês, magnésio e outros minerais presentes no solo.
Por isso, a planta tem potencial para ser usada na fitorremediação – para equilibrar um ecossistema, controlando os níveis de contaminantes orgânicos e inorgânicos presentes no solo e na água.
Os autores do estudo acreditam que a aninga poderia ser usada como um filtro natural para a limpeza de rios e solo. Até agora, as amostras da espécie foram retiradas de áreas urbanas, onde a contaminação é maior.
Portanto, novas análises – em outras áreas – serão feitas a fim de verificar sua aplicação como indicadora de poluição ambiental. Os pesquisadores pretendem ainda estudá-la observando sua interação com a água e solo. http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2010/06/remedio-ou-veneno

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Atividade de pesquisa sobre como as Drogas agem no Sistema Nervoso (neurônios) - 3 ano Acadêmico Villas

"O abuso e a dependência das drogas é um grande problema enfrentado por toda a sociedade. Além dos prejuízos sociais, as drogas causam graves distúrbios físicos nos seus usuários. O conhecimento dos efeitos danosos causados pelas drogas na saúde do indivíduo pode ajudar na prevenção do seu uso."


terça-feira, 8 de junho de 2010

Costume de fumar cérebro de abutre para prever jogos ameaça espécie

Costume de fumar cérebro de abutre para prever jogos ameaça espécie

Entidades de proteção de animais na África do Sul estão dizendo que uma espécie de abutre tradicional da região, o abutre do Cabo, está ameaçada de extinção devido a crença local de que fumar o cérebro da ave ajuda a prever o resultado de jogos de futebol.
A tradição tem suas raízes nas culturas de várias etnias sul-africanas. Acredita-se que o animal tem a capacidade de prever o futuro e que, fumando ou ingerindo seu cérebro, seja possível adquirir esse poder.

 A ave pode estar extinta em até 30 anos, dizem especialistas

 O suposto conhecimento adquirido é então usado para se fazer apostas em resultados de eventos esportivos.

Cultura
Especialistas acreditam que a excelente visão da ave, que tem a capacidade de localizar alimentos em vastas áreas, talvez tenha contribuído para a crença de que o pássaro tenha poderes especiais.
Embora não haja qualquer evidência científica para sustentar essa crença, Andre Botha, da entidade sul-africana de proteção a espécies ameaçadas, Endangered Wildlife Trust, disse que é difícil convencer as pessoas disso.
"Pense nos comerciantes que vendem esses abutres. Se a crença fosse verdadeira, todos seriam poderosos e milionários. Mas é muito fácil perceber isso quando olhamos da nossa perspectiva".
"Quando se trata de uma crença arraigada em uma cultura por centenas ou milhares de anos, é muito difícil questioná-la", disse o especialista.
Com a aproximação da Copa do Mundo, ambientalistas temem que apostas nos resultados dos jogos levem a um boom na venda de cérebros de abutres.
Botha disse que o abutre do Cabo está particularmente ameaçado e, se continuar a ser morto no ritmo atual, pode desaparecer dentro de 15 a 30 anos.
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/06/100607_abutre_rc.shtml

Reprogramação genética de células humanas

Brasileiros publicam trabalho de reprogramação genética de células humanas

Inserção de genes no genoma de célula adulta fazem com que ela volte a se comportar como célula embrionária

07 de junho de 2010 | 22h 39
 
Herton Escobar, de O Estado de S. Paulo
Um estudo publicado na revista Stem Cells and Development descreve, pela primeira vez na literatura científica, uma linhagem brasileira de células humanas geneticamente reprogramadas para funcionar como se fossem células-tronco embrionárias. O trabalho, liderado por pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, detalha a transformação de células da pele em células pluripotentes, capazes de se transformar em vários tecidos especializados.

Virginia Picanço Castro/Divulgação
Colônias de células pluripotentes produzidas por cientistas
 
A reprogramação genética é feita pela inserção de genes ligados a características embrionárias no genoma de uma célula adulta (neste caso, da pele), fazendo com que ela volte a se comportar como se fosse uma célula embrionária. Tradicionalmente, são usados quatro genes - OCT4, SOX2, KLF4 e C-MYC -, introduzidos nas células por meio de vetores virais. No estudo brasileiro, porém, os cientistas usaram apenas três genes: C-MYC, SOX2 e um outro, inédito, chamado TCL-1A.
Análises de expressão gênica e diferenciação espontânea in vitro comprovam que as células da pele foram reprogramadas com sucesso pelos três genes e voltaram a ser pluripotentes. Com uma ressalva: injetadas sob a pele de camundongos, elas não chegaram a formar teratomas, um tipo de tumor misto, formado por células de diversos tecidos.
A formação de teratomas é vista como prova essencial na caracterização de células embrionárias e equivalentes, como as células-tronco de pluripotência induzida (iPS), produzidas pela reprogramação de células adultas. Por isso, o revisor do trabalho na revista aceitou que as células fossem chamadas de pluripotentes, mas não de iPS. "Significa que elas estão um pouco abaixo das iPS em seu potencial de diferenciação", explica o pesquisador Dimas Tadeu Covas, diretor-presidente da Fundação Hemocentro de Ribeirão Preto, que assina o estudo com outros oito cientistas. "Vamos explorar se isso tem alguma vantagem do ponto de vista prático."
"O fato de não ter havido formação de teratomas pode ser bom ou ruim. Esperamos que seja bom", diz a pesquisadora Virgínia Picanço-Castro, também do Hemocentro, que é a primeira autora do trabalho.
Um dos problemas de trabalhar com células embrionárias, diz ela, é justamente a dificuldade em direcionar sua diferenciação para tecidos específicos. Elas são tão versáteis e espontâneas que torna-se difícil controlá-las. Nesse aspecto, as células produzidas em Ribeirão podem ser até mais seguras para um eventual uso terapêutico. "Não precisamos que elas deem origem a tudo. Se formarem o tecido que a gente precisa, já será suficiente", conclui Virgínia.
As células reprogramadas não foram testadas ainda funcionalmente, nem em modelos animais nem in vitro. O objetivo agora, segundo Virgínia, é estudar o funcionamento do novo gene (TCL-1A) e tentar entender como ele, em associação com os outros dois (C-MYC e SOX2) induz a transformação das células.
Outros estudos publicados recentemente fora do Brasil já conseguiram induzir a reprogramação com apenas um gene, mas essa receita genética varia de acordo com o tipo de célula, segundo a cientista.
Histórico
As células-tronco de pluripotência induzida (iPS) são hoje as preferidas para estudos com células pluripotentes, porque são equivalentes às células-tronco embrionárias, mas não exigem a destruição de embriões humanos para sua obtenção - o que evita uma série de questionamentos éticos sobre esse tipo de pesquisa.
A tecnologia de reprogramação genética foi desenvolvida em 2006 pelo pesquisador japonês Shinya Yamanaka, utilizando os quatro genes mencionados acima. Primeiro em células de camundongo e logo em seguida, em células humanas. Nos últimos anos, vários laboratórios, em vários países, reproduziram a técnica e passaram a utilizar as células iPS em pesquisas de rotina.
No Brasil, o primeiro a anunciar a obtenção de células iPS foi o neurocientista Stevens Rehen, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, no início de 2009. O resultado foi noticiado pelo Estado. Logo em seguida, o grupo de Ribeirão Preto informou que já tinha, também, produzido linhagens de células iPS, mas que não havia anunciado nada publicamente porque aguardava a publicação de um artigo confirmando a caracterização das células. O resultado é este trabalho publicado na Stem Cells and Development.
 http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,brasileiros-publicam-trabalho-de-reprogramacao-genetica-de-celulas-humanas,562970,0.htm

sábado, 5 de junho de 2010

Fim da picada

Fim da picada

Após quatro anos de pesquisa, brasileiros criam primeiro soro antiveneno de abelhas do mundo. O antídoto é uma esperança para reduzir os danos causados por ataques de enxames, que podem ser fatais. Mas ainda não é uma solução para alérgicos ao inseto.
Por: Larissa Rangel
Publicado em 31/05/2010 | Atualizado em 31/05/2010

 O soro desenvolvido promete ser a solução para casos de ataques de enxame. Ele não servirá, contudo, para tratar pessoas alérgicas ao inseto (foto: Ignacio Conejo – CC BY-NC-SA 2.0).  

Pesquisadores do Instituto de Investigação em Imunologia, que faz parte do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (iii-INCT), em parceria com o Instituto Butantan, acabam de desenvolver um soro antiveneno de abelhas, o primeiro no mundo.
O antídoto pode ser eficaz no tratamento de altas quantidades de veneno, em casos de ataques de enxames, que causam a síndrome de envenenamento – doença que pode levar à morte.

O soro surgiu a partir do projeto de doutorado de Keity Souza Santos, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Ele funciona contra o veneno da espécie Apis mellifera, também conhecida como africanizada, e muito comum no Brasil.
Depois de quatro anos de estudo, a bióloga conseguiu desenvolver a substância seguindo modelo semelhante ao soro antiofídico (contra ataques de cobras). Com a patente que acaba de ser concedida, o país pode se tornar um exportador do produto, estimulando a sua produção.

Anticorpos de cavalos

Para obter o antídoto, os pesquisadores usaram o plasma do sangue de cavalos. Keity explica que poderiam ser usados cabras ou coelhos, mas, devido ao seu porte e à quantidade de antídoto que podem gerar, os cavalos são preferidos.

O processo começa com a injeção do veneno de abelha, no mesmo processo desenvolvido com o veneno de serpentes. Logo em seguida, o cavalo produz anticorpos específicos, que são armazenados para constituir o soro. “Por cada animal, são coletados cerca de dois litros de antídoto”, conta a pesquisadora.
A primeira etapa do processo foi fazer um levantamento das 134 proteínas presentes no veneno. Dessa forma, foi possível conhecer todos os mecanismos de ação para neutralizar as reações tóxicas que ele gera.
Depois, foram recolhidas amostras do sangue do cavalo para obter o plasma e analisá-lo em laboratório. Garantida a segurança da solução, o plasma foi então purificado e processado até chegar ao produto final.

 A espécie 'Apis mellifera', conhecida como abelha africanizada, é a mais comum no Brasil (foto: Jônatas Cunha – CC BY-SA 2.0).


Soro não serve para alérgicos

Apesar de sua eficácia nos ataques de enxames, onde há o acúmulo de grandes quantidades de veneno, o soro não será uma solução para pessoas alérgicas ao animal. “Para um alérgico, não há diferença se ele foi atacado por uma ou por várias abelhas. A reação é desencadeada pela simples presença do antígeno encontrado no veneno, e o soro não vai parar esse processo”, observa Keity.

A solução para quem tem alergia é fazer um tratamento específico para desenvolver uma tolerância às substâncias que compõem o veneno, bloqueando as reações que o próprio organismo desenvolve.
O soro resolve, portanto, as sérias complicações decorrentes de uma ‘overdose’ de veneno, uma vez que é o próprio anticorpo pronto e em quantidades concentradas.
Estima-se que ocorram 15 mil ataques de abelhas por ano no Brasil, tendo causado cerca de 140 mortes nos últimos dez anos. O novo soro deve mudar esse quadro em breve. Ele deve começar a ser produzido ainda este ano pela Fundação Butantan. Os pesquisadores aguardam apenas os testes finais de homogeneidade e certificação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O produto será distribuído principalmente para os hospitais públicos.

Larissa Rangel
Ciência Hoje On-line
http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2010/05/fim-da-picada

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Lagartos entram em extinção mundial por causa do aquecimento

13/05/2010 15h00 - Atualizado em 13/05/2010 16h41

Lagartos entram em extinção mundial por causa do aquecimento

Bichos são ‘sensores térmicos’; 40% das populações devem sumir até 2080.
Com participação de pesquisador brasileiro, estudo sai na revista ‘Science’.

Do G1, em São Paulo

Fêmea de 'Sceloporus mucronatus', espécie com baixa temperatura 
corpórea, portanto altamente suscetível ao aquecimentoFêmea de 'Sceloporus mucronatus', espécie com baixa temperatura corpórea, portanto altamente suscetível ao aquecimento (Foto: Barry Sinervo / Science)

Um grupo de 26 cientistas de 11 países, entre os quais um brasileiro, concluiu que os lagartos já cruzaram o portal das extinções em massa, por causa do aquecimento global. Além de um certo limite de elevação da temperatura, eles simplesmente não estão conseguindo se adaptar. Os pesquisadores calcularam que 40% das populações locais serão extintas até 2080. Em termos de espécies, 20% vão desaparecer até lá, caso o padrão de emissões de gases-estufa siga na mesma toada. Na avaliação dos especialistas, muitas das extinções projetadas para 2080 até podem ser evitadas, caso finalmente haja esforços de fato (e não apenas declarações de intenções) para reduzir emissões. Mas o cenário para 2050 é “provavelmente inevitável”, sentenciam.
Veja galeria de fotos com algumas espécies monitoradas pelos biólogos
Achávamos que os lagartos seriam capazes de se adequar, aclimatar, evoluir rapidamente para fazer frente a esse processo de aquecimento, mas verificamos
que não existe esse processo de evolução assim tão rápido, porque a arquitetura genética associada à fisiologia deles não anda tão rápido quanto o aquecimento"
Carlos Duarte Rocha, biólogo da UERJ
“Os lagartos são elementos indicadores muito bons das relações com a térmica do ambiente, porque são muito sensíveis às variações de calor”, explicou ao G1 Carlos Duarte Rocha, do Departamento de Ecologia do Instituto de Biologia da UERJ, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Os bichos vivem se “termorregulando” – calibram a tempertura corpórea pela temperatura do ambiente – movendo-se habilmente por seu “nicho térmico”. Nicho térmico é o conjunto de ambientes que eles exploram para, compensando aqui e ali, manter a temperatura média. “O lagarto se expõe ao sol para atingir uma determinada temperatura corpórea, depois vai para a sombra, depois volta para o sol a fim de ‘fazer manutenção’”, explica Rocha. “Mas com a desregulação resultante do aquecimento, ele não consegue mais ter essa margem de manobra. Resultado: retorna ao abrigo rápido demais, mesmo sem ter se alimentado, porque se não bater em retirada entra em torpor e morre”, diz o cientista.
Assim, se um lagarto poderia há alguns anos ficar em atividade por 12 horas fora do abrigo, hoje, com todo o arrocho nos termômetros, a única faixa viável de livre trânsito se estreita para 3 ou 4 horas. “Ele não vai conseguir alimento em quantidade necessária, não vai atingir o tamanho que é preciso para delimitar território e procriar, simplesmente não terá sucesso reprodutivo”, descreve Rocha. Ou seja: tudo que é essencial para sobreviver é tirado dos bichos.

Ritmo de extinções até 2080 
Ritmo de extinções até 2080 (Foto: Barry Sinervo e colegas / Science)

“Achávamos que os lagartos seriam capazes de se adequar, aclimatar, evoluir rapidamente para fazer frente a esse processo de aquecimento”, conta o biólogo. “Mas verificamos que não existe esse processo de evolução assim tão rápido, porque a arquitetura genética associada à fisiologia deles não anda tão velozmente quanto o aquecimento.”
Os pesquisadores cruzaram dados sobre a temperatura do corpo de lagartos e os séries históricas de distribuição geográfica de diferentes espécies para determinar quantas horas de restrição da atividade poderiam ser sustentadas pelos lagartos.
Para piorar, constataram que os ambientes em que ocorreram as erradicações não são perturbados e, a maioria deles está em parques nacionais e outras áreas protegidas. Conclusão: enquanto a recente extinção global de anfíbios não está diretamente relacionada à mudança do clima, mas, principalmente à propagação de doenças, as extinções de lagartos se devem ao aquecimento do clima, de 1975 até o presente.
Eles destacam que esse desaparecimento em massa terá importantes repercussões “para cima” e “para baixo” na cadeia alimentar, já que os lagartos são presas importantes para muitos pássaros, serpentes e outros animais, e importantes predadores de insetos. Os pesquisadores preveem, em nota apresentando suas conclusões, “o colapso de algumas espécies no extremo superior da cadeia alimentar, e uma liberação para as populações de insetos".

Quanto sol na moleira pode um lagarto aguentar?
Para investigar a ligação entre extinções e temperatura, os pesquisadores foram a uma área na Península de Yucatán onde o lagarto-azul (Sceloporus serrifer) havia declinado nos seus estoques populacionais, instalaram dispositivos que simulavam o corpo de um lagarto tomando sol e fizeram o registro das temperaturas em um microchip. Os dispositivos foram fixados por quatro meses em locais expostos ao sol em áreas com e sem populações sobreviventes do lagarto-azul-espinhoso.
O líder do estudo, Barry Sinervo, do Departamento de Ecologia e Biologia Evolucionária da Universidade da Califórnia, câmpus de Santa Cruz, usou as descobertas para desenvolver um modelo de risco de extinção baseado nas temperaturas máximas do ar, na temperatura fisiológica de cada espécie de lagarto quando está ativa e as horas nas quais a atividade seria restrita pela temperatura do ambiente. Onde foram extintos, a redução do período de atividade, por excesso de calor, chegou a 9 horas por dia, diz Rocha.
Na comparação entre as previsões do modelo com as observações no México, as únicas diferenças foram em alguns casos onde a população foi eliminada mais cedo do que o esperado por causa da competição com uma espécie que expandiu a sua ocorrência, porque estava adaptada a temperaturas mais quentes.

Indícios no Brasil
No caso específico de um lagarto que só existe no estado do Rio de Janeiro, o lagartinho-branco-da-praia (Liolaemus lutzae), estudado há décadas por Rocha, desde 1984 o número de áreas de restinga nas quais a espécie poderia ser encontrada caiu de 24 para 17. Isso significa que houve quase 30% de extinção de populações locais.

Lagartinho-branco-da-praia ('Liolaemus lutzae'), que só existe no 
RJ: quase 30% de extinção de populações locais desde 1984Lagartinho-branco-da-praia ('Liolaemus lutzae'), que só existe no RJ: quase 30% de extinção de populações locais desde 1984 (Foto: Luiz Cláudio Marigo via Carlos Frederico Duarte Rocha)
A parte brasileira da pesquisa “Erosion of lizard diversity by climate change and altered thermal niches”, publicada na “Science” desta semana, teve financiamento do CNPq e da Faperj.

Darwin psicólogo, o lado desconhecido do gênio

02 de junho de 2010

Darwin psicólogo, o lado desconhecido do gênio 

Autor da teoria da evolução também fez experiências com psicologia 

por Jabr Ferris

Charles Darwin é famoso pela prolífica obra sobre biologia. Além de publicar sua teoria da evolução, escreveu livros sobre recifes de coral, minhocas e plantas carnívoras. Mas o eminente naturalista fez importantes contribuições além das ciências da vida: também foi um psicólogo experimental.

Darwin conduziu um dos primeiros estudos sobre como as pessoas reconhecem a emoção nos rostos, de acordo com pesquisa de Peter Snyder, neurocientista da Brown University. Snyder se baseou em documentos biográficos inéditos, agora divulgados na edição de maio do Journal of the History of the Neurosciences.


Wikimedia Commons
 Imagem de Duchenne sobre reações emocionais 

 Lendo cartas de Darwin na University of Cambridge, na Inglaterra, Snyder observou várias referências a uma pequena experiência sobre emoções que o cientista realizara em sua casa. Com a ajuda de bibliotecários, Snyder descobriu notas com caligrafia ilegível das mãos idosas de Darwin e com a letra de sua esposa, Emma. Embora o fascínio de Darwin com a expressão emocional seja bem documentado, ninguém tinha reunido os detalhes de sua experiência caseira. Agora, surge uma narrativa completa.

“Darwin aplicou um método experimental que, na época, era muito raro na Inglaterra vitoriana", disse Snyder. "Ele avançou nas fronteiras de todos os tipos de ciências biológicas, mas suas contribuições para a psicologia são pouco conhecidas."

Em 1872, Darwin publicou o texto "A expressão das emoções no homem e nos animais”, no qual argumentava que todos os seres humanos e até mesmo outros animais expressavam emoções por meio de comportamentos notavelmente similares. Para Darwin, a emoção tinha uma história evolutiva que poderia ser rastreada através de culturas e espécies. Hoje, muitos psicólogos concordam que certas emoções são universais para todos os seres humanos, independentemente da cultura: raiva, medo, surpresa, nojo, alegria e tristeza.

Ao escrever o livro, Darwin correspondeu-se com vários pesquisadores, incluindo o médico francês Guillaume-Benjamin-Amand Duchenne, para quem os rostos humanos poderiam expressar pelo menos 60 emoções distintas, dependendo do grupo específico de músculos faciais. Em contraste, Darwin acreditava que as musculaturas faciais trabalhavam juntas para criar um conjunto de apenas algumas emoções.

Duchenne estudou a emoção através da aplicação de uma corrente elétrica nos rostos. Ao estimular a combinação correta de músculos faciais, Duchenne imitou expressões emocionais genuínas. Ele produziu mais de 60 fotos de suas cobaias humanas, demonstrando o que acreditava ser emoções distintas.


Mas Darwin discordou. "Comecei a olhar para o álbum dos fotogramas que Darwin tinha recebido de Duchenne", disse Snyder. "E Darwin escreveu essas notas críticas nele, dizendo: ‘Eu não acredito nisso. Isso não é verdade’".

Segundo Darwin, apenas alguns slides de Duchenne representariam emoções humanas universais. Para testar essa ideia, ele realizou um estudo duplo-cego em sua casa no condado de Kent, Inglaterra. Darwin escolheu 11 de slides de Duchenne, colocou-os em uma ordem aleatória e apresentou-os um de cada vez para mais de 20 dos seus convidados, sem quaisquer sugestões ou questões de liderança. Então pediu aos amigos que adivinhassem qual emoção cada slide representava. “Esse tipo de controle experimental seria considerado rudimentar atualmente, mas foi avançado no tempo de Darwin”, ressalta Snyder.

De acordo com as notas nos manuscritos e nas tabelas de dados estudados por Snyder, os convidados de Darwin concordaram quase unanimemente sobre a felicidade, tristeza, medo e surpresa, mas discordaram sobre outras emoções. Para Darwin, apenas os slides fotográficos de emoções básicas eram relevantes.

Darwin utilizou os resultados de seu experimento do século 19 para melhorar a própria compreensão da emoção e da expressão. Mas seus métodos pioneiros continuam a ser relevantes para psicólogos atuais.

"Hoje usamos quase a mesma técnica, e até mesmo os estímulos, para avaliar o reconhecimento emocional de uma variedade de doenças psiquiátricas, como o autismo e a esquizofrenia", disse Snyder. "Os métodos de abordagem de Darwin não estão presos no tempo.”

http://www2.uol.com.br/sciam/noticias/darwin_psicologo_o_lado_desconhecido_do_genio.html