quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Novo planeta pode conter vida

Nova descoberta sugere que Via Láctea pode ter bilhões de planetas habitáveis

Gliese 581g tem tamanho, gravidade e temperatura compatíveis com a vida, dizem descobridores

29 de setembro de 2010 | 18h 05
 
Carlos Orsi - estadão.com.br
Astrônomos descobriram um planeta de tamanho próximo ao da Terra orbitando dentro da chamada "zona habitável" de uma estrela. Trata-se do segundo planeta encontrado na zona habitável de Gliese 581. Segundo os autores, a descoberta abre a possibilidade de haver dezenas de bilhões de mundos potencialmente habitáveis na galáxia.


Zina Deretsky/AP
Zina Deretsky/AP
Ilustração de Gl 581g, planeta potencialmente habitável

A zona habitável é definida como a distância da estrela onde a energia que atinge o planeta é suficiente para manter água em estado líquido, na superfície ou logo abaixo do solo.
O planeta é um de dois novos astros encontrados em órbita da estrela Gliese 581, a 20 anos-luz da Terra. Chamado Gliese 581g, o planeta tem um período orbital de 36,6 dias, uma massa que pode estar entre 3,1 vezes e 4,3 vezes a massa da Terra e um raio até 50% maior que o terrestre, diz, por meio de nota, um dos autores da descoberta, Paul Butler, da Pesquisa de Exoplanetas Lick-Carnegie. A gravidade na superfície deve ser de menos que o dobro da terrestre.
O planeta fica bem perto de sua estrela - a distância que o separa dela é apenas 14% da que separa a Terra do Sol -, mas como Gliese 581 é muito mais fraca que o Sol, tem uma zona habitável que começa e termina a uma distância muito menor de sua superfície.
Os autores da descoberta, descrita no Astrophysical Journal, especulam que o planeta pode ter uma face permanentemente voltada para sua estrela. Trata-se do mesmo fenômeno que ocorre na Lua, que apresenta sempre o mesmo lado para a Terra. Se esse for o caso, Gliese 581g teria um lado extremamente quente e o outro, completamente congelado, com uma faixa potencialmente habitável na linha que separa os hemisférios quente e frio.
Gliese 581g não é o primeiro planeta encontrado dentro da zona habitável dessa estrela: outro mundo, Gliese 581d, descoberto em 2007, tem a maior parte de sua órbita dentro dessa região do espaço. No entanto, Gl 581d tem sete vezes a massa terrestre, o equivalente a metade da massa do planeta gigante Urano.
A despeito disso, no ano passado a revista australiana Cosmos coletou mensagens para serem enviadas ao espaço na direção desse planeta, na esperança de que seres vivos de lá, caso existam, sejam inteligentes e possam reconhecer o sinal da Terra.
A estrela também abriga um dos planetas extrassolares de menor massa, Gliese 581e, com 90% mais massa que a Terra. Mas Gl 581e fica muito perto do astro - a distância que o separa da estrela é de apenas 3% da que existe entre a Terra e o Sol.
Com os dois novos planetas encontrados, a estrela agora passa a ter seis mundos conhecidos. De acordo com a nota dos autores da descoberta, o sistema da estrela Gliese 581 sugere que a proporção de estrelas da Via Láctea com planetas potencialmente habitáveis pode ser maior do que se pensava, chegando a algumas dezenas de 1%.
Pode parecer pouco, mas o total de estrelas da galáxia é estimado como algo entre 200 bilhões e 400 bilhões - se 20% delas tiverem pelo menos um planeta habitável, haveria de 40 bilhões a 80 bilhões de mundos onde a vida poderia florescer.
Até hoje, foram descobertos cerca de 490 planetas localizados fora do Sistema Solar.
http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,nova-descoberta-sugere-que-via-lactea-pode-ter-milhoes-de-planetas-habitaveis,617317,0.htm 

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Prêmio Fotógrafo de Meio Ambiente do Ano da ONG britânica CIWEM

24/09/2010 - 15h31

Veja fotos vencedoras de concurso no Reino Unido sobre o ambiente

DA BBC BRASIL

A edição de 2010 do prêmio Fotógrafo de Meio Ambiente do Ano da ONG britânica Instituto para a Gestão do Meio Ambiente e da Água (CIWEM, na sigla em inglês) premiou o alemão Florian Schulz pelo registro de um grande grupo de arraias na costa do México.

A competição aceita inscrições de amadores e profissionais contanto que seus trabalhos reflitam questões climáticas, sociais e a natureza.
Criado em 2008, o prêmio já é considerado uma referência internacional.
As fotos são julgadas em cinco quesitos: impacto, criatividade, originalidade, composição e qualidade técnica.
Os vencedores do concurso vão participar de uma mostra na galeria londrina The Air entre 25 e 30 de outubro.
Florian Schulz/Epoty.org/Specialiststock/Barcroft Media

Julienne Bowse/Epoty.org/Specialiststock/Barcroft Media

Radoslav Radoslavov Valkov/Epoty.org/Specialiststock/Barcroft Media

Bence Mate/Epoty.org/Specialiststock/Barcroft Media

Kaido Haagen/Epoty.org/Specialiststock/Barcroft Media



 Alex Marttunen/Epoty.org/Specialiststock/Barcroft Media

 Peter Swan/Epoty.org/Specialiststock/Barcroft Media
 http://www1.folha.uol.com.br/bbc/804221-veja-fotos-vencedoras-de-concurso-no-reino-unido-sobre-o-ambiente.shtml

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Método injeta medicamentos pela pele utiliza cem microagulhas e calor humano

Método para injetar medicamentos pela pele usa microagulhas e calor humano

Técnica indolor poderá permitir introdução de drogas com moléculas maiores, como insulina

20 de setembro de 2010 | 17h 43
AP
Pesquisadores da Universidade Purdue, nos Estados Unidos, desenvolveram um método para aumentar os tipos de drogas que possam ser administradas pela pele, como a insulina.
 AP/Journal & Courier/Michael Heinz
 Bomba descartável fará a distribuição transdérmica

"A técnica consiste em uma bomba descartável para aplicação de medicamentos por meio da pele, chamada de distribuição transdérmica", afirma Babak Ziaie, professor de engenharia elétrica e computação da universidade.
Segundo ele, os adesivos que estão disponíveis no mercado - como os de nicotina e anticoncepcionais - são limitados para administrar drogas de moléculas pequenas, que podem se propagar pela pele.
Os pesquisadores estão interessados em oferecer medicamentos com moléculas maiores, que ainda não podem ser transferidas pela pele. Para isso, trabalham na fabricação de uma placa com cerca de cem microagulhas que não causam dor.
Essas microagulhas exigirão bombas para empurrar a medicação pelas agulhas. No entanto, as que existem atualmente demandam uma poderosa fonte de energia, como uma bateria. Por essa razão, Ziaie e sua equipe desenvolveram uma bomba simples e descartável, que não requer bateria, engrenagem nem eixo.
"Um dos aspectos mais importantes é o dispositivo que não requer bateria", disse Charilaos Mousoulis, estudante de doutorado que trabalhou na produção da bomba. "É prática e tem muitas aplicações. Podemos usar com muitas drogas para injeção", explica.
De acordo com Manuel Ochoa, outro estudante de doutorado, os materiais e a fabricação da bomba serão simples. "Pode ser dimensionada para diferentes tamanhos", diz.
A bomba que Ziaie e sua equipe criaram usa um líquido que ferve a uma temperatura semelhante à do corpo humano. Assim, com o simples toque de um dedo, o calor faz com que o líquido evapore rapidamente, o que cria pressão suficiente para forçar os medicamentos através das microagulhas.
O próximo passo é encontrar uma empresa que fabrique o dispositivo e trabalhar com médicos e clínicos para definir qual será a doença-alvo do produto e a droga administrada.

http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,metodo-para-injetar-medicamentos-pela-pele-usa-microagulhas-e-calor-humano,612661,0.htm/?sdfjksdfjksdf

Peixe transgênico: 1º animal liberado?

EUA analisam liberação de salmão transgênico para consumo humano

A FDA já decidiu que o peixe, que engorda duas vezes mais que o salmão convencional, é seguro

20 de setembro de 2010 | 15h 39
 
Associated Press - AP
A agência reguladora de alimentos do governo dos Estados Unidos estuda nesta segunda-feira, 20, a liberação de um animal geneticamente modificado para consumo humano.
Divulgação/AP
Salmão modificado (maior) ao lado de um natural da mesma idade
 
A FDA realiza dois dias de audiências sobre o pedido para liberação no mercado de um salmão geneticamente modificado. O principal executivo da empresa responsável, AquaBounty, Ron Stotish, disse que o produto é seguro e ambientalmente sustentável.
Críticos, no entanto, referem-se ao salmão como um "frankenpeixe" que poderia causar alergias em seres humanos e levar á extinção do salmão natural. Um comitê consultivo da FDA está revisando os dados científicos a respeito do peixe e analisando as críticas.
A FDA já decidiu que o peixe, que engorda duas vezes mais que o salmão convencional, é tão seguro para consumo humano quanto a variedade da natureza. O apetite do público em geral pelo animal, no entanto, é uma questão a ser determinada.
A aprovação do salmão abriria as portas do mercado para uma grande variedade de animais geneticamente modificados, incluindo um porco que está sendo desenvolvido no Canadá, ou gado imune à doença da vaca louca.
No caso do salmão, a AquaBounty acrescentou um gene de hormônio de crescimento que permite que o peixe produza o hormônio durante todo o ano. Os engenheiros conseguiram manter o gene ativo usando outro gene, de um peixe semelhante a uma enguia e que funciona como uma espécie de interruptor para o hormônio.
Salmões convencionais só fazem o hormônio durante parte do tempo.
A FDA disse que não há diferenças biológicas significativas entre a variedade modificada e a comum, e que existe certeza razoável de que seu consumo é seguro.
Os críticos têm duas preocupações: a segurança para o consumidor humano e o impacto no ambiente. Frutos do mar, argumentam, já apresentam uma alta propensão para causar alergias; além disso, o novo salmão, se escapar para a natureza, poderia entrar em competição com a variedade natural, que já está ameaçada.
http://www.estadao.com.br/noticias/vidae,eua-analisam-liberacao-de-salmao-transgenico-para-consumo-humano,612618,0.htm

Novo exame para o coração

20/09/2010 - 11h12

Novo exame ajuda a planejar intervenções no coração

DÉBORA MISMETTI
EDITORA-ASSISTENTE DE SAÚDE

A ressonância magnética em três dimensões desenvolvida por médicos da University of Western Ontario, no Canadá, consegue fundir duas imagens em uma: o mapeamento de vasos do coração e o das lesões no músculo cardíaco, como fibroses e cicatrizes causadas por infartos e inflamações.
Reprodução
 Imagem de ressonância que mostra vasos e lesões (cor branca) do músculo cardíaco

Segundo o líder da pesquisa, James White, ter essa imagem combinada permite direcionar os tratamentos para vasos que irrigam partes do coração que ainda podem responder aos procedimentos, e não para as regiões lesionadas. Assim, seria possível melhorar a taxa de sucesso das intervenções.
Os pesquisadores do Canadá testaram a ressonância em 55 pacientes que fariam angioplastia ou colocariam marcapasso. Os resultados foram publicados no "Journal of the American College of Cardiology: Cardiovascular Imaging".
 
SINCRONIA
Carlos Eduardo Rochitte, cardiologista do Incor (Instituto do Coração do HC), afirma que o exame pode ser útil em tratamentos de ressincronização, feitos quando dois lados do músculo não estão contraindo ao mesmo tempo.
Nesses casos, é necessário colocar um marcapasso duplo, que passa pelos vasos do ventrículo esquerdo. É preciso saber onde estão os vasos e se não há fibrose na área onde vai ficar o aparelho. "Esse exame dá as duas informações", diz Rochitte.
O especialista também vê benefícios para pontes de safena e angioplastias. "O objetivo desses procedimentos é restabelecer o fluxo de sangue para uma região do músculo. Se ela tiver fibrose, não vai valer a pena."
Ele destaca, no entanto, que a tomografia tem maior precisão para avaliar a condição dos vasos.
"A visualização pela ressonância ainda é limitada. Há técnicas de fusão de tomografia e ressonância, por exemplo, para esse tipo de exame." Ainda assim, a ressonância tem a vantagem de não envolver radiação, é inócua para o paciente.
 
NA PRÁTICA
A adoção do exame na prática clínica ainda precisa ser avaliada, para Rochitte.
"A gente tem que ver o que é importante e o que é essencial. Não sei se isso vai se tornar essencial." Mesmo assim, ele acredita que esse tipo de inovação é a tendência dos exames. "O caminho é o uso de 3D e de imagens que podem ser facilmente analisadas", afirma.
http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/801505-novo-exame-ajuda-a-planejar-intervencoes-no-coracao.shtml

domingo, 12 de setembro de 2010

Nem todo vivente é pessoa

Nem todo vivente é pessoa

Que propriedade biológica define a existência humana? Motivado por uma tese de doutorado em filosofia, Sergio Pena volta a um artigo de 1986 no qual examinou essa questão e defende a reforma do Código Penal para descriminalizar o aborto terapêutico.
Por: Sergio Danilo Pena
Publicado em 10/09/2010 | Atualizado em 10/09/2010
Estudos anatômicos do feto no útero feitos por Leonardo Da Vinci (1452–1519). Foto: Luc Viatour.

Recentemente, fui convidado para ser um dos examinadores de uma tese de doutorado em filosofia. Fiquei encantado com a ideia. Primeiro porque senti que este convite parecia sacramentar o meu ideal de transdisciplinaridade. Segundo, porque eu teria a oportunidade de observar a filosofia acadêmica funcionando em tempo real.
A tese – muito boa, diga-se de passagem – tinha nada menos que 349 páginas de texto, sem qualquer figura ou tabela. Literalmente um prato cheio! Seu objetivo era discutir a ética do uso de embriões humanos para a produção de células-tronco embrionárias e também a seleção genética de embriões humanos para fins reprodutivos.
Em um dado momento, o jovem filósofo autor da tese afirma que “não é óbvio que ‘ser humano’ sempre seja equivalente a ‘pessoa’ ou ‘indivíduo’ (entendido como pessoa ou cidadão)”.

À procura do tempo perdido

Como a madeleine de Proust, essa sentença da tese me transportou ao passado, especificamente ao ano de 1986.
Naquela época, eu havia há pouco retornado ao Brasil, após quase 12 anos no exterior, os quatro últimos como professor da Universidade McGill em Montreal, no Canadá. Aos 38 anos, recém-aprovado em concurso para professor titular da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), eu estava cheio do entusiasmo reformista.
Além da minha associação com a UFMG, eu havia também fundado, em 1982, um núcleo de genética médica no Instituto Hilton Rocha, em Belo Horizonte. Entre as novidades que eu introduzira, junto com minha esposa Betânia, estava o diagnóstico pré-natal de doenças genéticas pelo estudo do líquido amniótico coletado na 16ª semana de gravidez.
Naqueles tempos, a revista Veja publicava em sua última página a coluna “Ponto de vista”. Na edição de 6 de agosto de 1986 saiu ali um artigo meu: “Nem todo vivente é pessoa”. Observem a similaridade deste título com a afirmativa da tese de filosofia de 2010.
Localizei o artigo que fiz para a Veja em meus arquivos. Fiquei satisfeito quando, ao lê-lo, descobri que estava bem escrito e que, nos dias de hoje, 24 anos após a publicação, ainda considero os argumentos válidos e necessários. Mais importante ainda, concordei com tudo que disse e acho que as minhas colocações continuam muito importantes!
Assim, decidi reapresentar e depois comentar brevemente este artigo aqui na Deriva Genética, o que faço agora, sem mudar nem uma vírgula.

O artigo de 1986

Vejamos o texto de 24 anos atrás:

Nos últimos anos a capacidade médica de obter informações sobre o feto cresceu dramaticamente. Uma nova gama de técnicas, coletivamente chamadas de diagnóstico pré-natal, já permite obter dados sobre a saúde da criança que vai nascer e possibilita o diagnóstico preciso de um grande numero de doenças ainda nos primeiros meses de gravidez. Essas técnicas, principalmente o estudo genético do líquido amniótico – aquele que envolve o feto durante a gestação – e a ultrassonografia de alta resolução, já estão sendo rotineiramente utilizadas nos modernos centros médicos do Brasil.
O objetivo principal do diagnóstico pré-natal é simples: obter informações sabre o feto em gestações nas quais o risco de nascimento de uma criança anormal é elevado. Nos casos em que uma doença grave e incurável é detectada, a lei permite, na América do Norte e na Europa, que os pais escolham entre a continuação e a interrupção da gravidez. No Brasil, porém, tal liberdade de escolha é cerceada pelo artigo 128 do Código Penal, que proíbe o aborto terapêutico – e condena os pais, mesmo sabendo com certeza o destino que lhes aguarda, a terem um filho anormal. Ressalte-se que em algumas outras circunstâncias especiais o aborto é permitido pela lei brasileira – quando a vida da mãe está em risco iminente ou quando a gravidez resulta de estupro. Já é hora de o Código Penal brasileiro ser modificado de forma a não caracterizar como crime o aborto terapêutico, permitindo interromper gestações nas quais for comprovada a presença de doença fetal grave e incurável.
Essa discussão traz embutida, certamente, uma grave problemática de ordem moral. Por um lado, temos o respeito profundo à vida do feto e, pelo outro, temos de levar em conta o enorme sofrimento que os graves problemas mentais e físicos certamente trarão para a família e para a própria criança. Esse dilema ético não deve, porém, ser confundido com a questão do aborto livre, para o qual não existe qualquer justificativa médica. O que se defende aqui é o direito de a família optar pela interrupção de uma gravidez quando há certeza da presença de doença fetal grave e incurável. Ainda assim, qualquer enquete de opinião sobre a descriminalização do aborto terapêutico no Brasil certamente revelaria dois grandes grupos antagônicos. Um deles enfatizaria a santidade da vida ou o direito à vida – opinião adotada pela Igreja Católica – e o outro se bateria pela qualidade da vida. Embora agudizada na questão do aborto, essa oposição de teses permeia todo o trabalho da medicina moderna.
O conceito de santidade da vida frequentemente se choca com o conceito de utilidade social – uma discussão que, obviamente, extrapola o campo técnico e moral da medicina. A pena de morte é um exemplo clássico de uma situação em que os interesses da sociedade são postos acima da santidade da vida. Outra situação é a guerra, na qual a sociedade, a lei e a própria Igreja admitem que se mate, mesmo quando a vida do indivíduo não corre risco direto. Recentemente, no Brasil, indivíduos que haviam assassinado suas esposas foram absolvidos em júris populares por ter agido em “legítima defesa da honra”. É patente que o conceito de santidade da vida não é claro nem objetivo, sendo antes um conc
eito ideológico que muda com a dinâmica das esferas social, política e econômica da sociedade.
A força fundamental do conceito de qualidade de vida vem da sua ligação com a responsabilidade humana autêntica. Apenas os seres humanos podem decidir o que é realmente humano e não devem fugir das implicações de diferenciar a vida biológica da vida social útil, distinguindo vivente da pessoa. A vida puramente biológica não tem em si o suficiente para definir uma existência humana. Decisões devem ser tomadas à luz da necessidade de prevenir ou reduzir o sofrimento das famílias e da sociedade, e não apenas em resposta a direitos imagináveis de fetos lesados pela doença ao ponto de jamais poderem reivindicar esses direitos.
Certos críticos atacam o conceito de qualidade de vida temendo que a sua aceitação poderia levar à defesa do infanticídio de crianças defeituosas. Há, entretanto, uma enorme diferença entre o feto pré-viavel – que depende do corpo da mãe para sua existência – e o recém-nascido, que já tem o status moral de um ser humano independente. Após o nascimento, os pais são fundamentalmente responsáveis pela proteção da criança. Essa relação especial envolve ser guardião, advogado e defensor dos direitos da criança, mesmo quando esses entram em conflito com os próprios interesses egoístas ou os interesses da sociedade. Isso é paternidade responsável. Mantendo-se essa distinção em mente, pode-se chegar a uma posição ética que medeia entre a respeito à vida do feto e a redução do sofrimento causado por doenças graves e incuráveis.
Com a adoção de técnicas de diagnóstico pré-natal no Brasil, centenas de pacientes têm se beneficiado delas e alguns abortos terapêuticos têm sido feitos, apesar da proibição legal. Em um futuro não muito distante, o Brasil alcançará a situação da América do Norte e da Europa, onde a maioria das gestações é acompanhada por exames do líquido amniótico. Nos Estados Unidos, um estudo recente revelou que entre as mulheres de idade avançada que estavam fazendo acompanhamento genético da gestação, aproximadamente 5% teriam interrompido a gravidez caso não existisse o diagnóstico pré-natal. Não estaria o aborto terapêutico permitindo gestações que jamais se concretizariam sem ele e, assim, paradoxalmente, salvando vidas?
Fac-símile do artigo de autoria do colunista, publicado em 1986, na revista Veja.

Post-scriptum

Hoje, 24 anos depois, o diagnóstico pré-natal avançou significantemente. A coleta de vilos coriônicos – uma punção segura e confiável, realizada com apenas 12 semanas de gestação – é capaz de fornecer resultados completos em 24 horas! Com os avanços da citogenética molecular, podemos também ter resultados em um dia com a amniocentese, que antes demoravam duas semanas.
 Diagramas das duas principais técnicas de coleta fetal usadas em diagnóstico pré-natal: a coleta de vilos coriônicos realizada a partir da 12ª semana de gravidez (A) e a amniocentese genética realizada na 16ª semana de gravidez (B). Desenhos cortesia do Laboratório Gene – Núcleo de Genética Médica.

Graças às investigações do DNA fetal circulante no sangue materno, nos próximos anos teremos o diagnóstico pré-natal não-invasivo, o que simplificará e ampliará consideravelmente o seu uso. E as novidades científicas continuam a surgir, ano a ano.


Se por um lado muito mudou na genética laboratorial, por outro lado, pouco mudou na legislação brasileira sobre o abortamento terapêutico, que continua proibido.
O Supremo Tribunal Federal já se pronunciou favorável ao abortamento terapêutico em caso de feto anencéfalo, mas o Código Penal (que é de 1940!) continua o mesmo. Não estaria na hora de resolvermos isso de uma vez por todas? 

Sergio Danilo Pena
Departamento de Bioquímica e Imunologia
Universidade Federal de Minas Gerais
http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/deriva-genetica/nem-todo-vivente-e-pessoa

Cirurgias de extirpação de útero, ovários e seios

12/09/2010 - 11h32

Conheça transexuais que farão cirurgias de extirpação de útero, ovários e seios 

LAURA CAPRIGLIONE
GUILHERME GENESTRETI

DE SÃO PAULO

"Sou um homem que nasceu com defeito no órgão genital", define João Vitor Gonçalves dos Santos, 25. O "defeito", segundo ele, é ter vindo ao mundo com vagina, útero e ovários --por isso, recebeu o nome de Josiane. Na adolescência, como acontece com qualquer menina, cresceram-lhe também os seios.
Agora, o rapaz terá mais chances de "corrigir" o corpo que tem, e que nunca aceitou. Desde o início de setembro, transexuais como ele já podem extirpar -em hospitais públicos ou privados- útero, ovários e mamas.
Também podem se submeter a tratamentos hormonais que estimulam o surgimento de caracteres masculinos, como a voz grossa e barba.
Antes, os procedimentos eram considerados "experimentais" e só eram feitos nos poucos hospitais que se submetem aos restritivos protocolos da pesquisa científica.
Segundo a nova resolução do Conselho Federal de Medicina, ainda se considera "experimental" a cirurgia chamada "neofaloplastia", que consiste em criar um pênis a partir de pele retirada de outras partes do corpo.
Mas já é um avanço imenso. "Depois que eu retirar os peitos, poderei vestir camiseta sem manga, em vez de viver me escondendo por baixo de camadas e mais camadas de camisas e casacos", diz João Vitor, vozeirão de homem muito macho.
Os depoimentos dele e de Fonseca (ambos concordaram em posar) mostram que outro tipo de sexualidade resolveu sair do armário da clandestinidade no Brasil.
Porque, se gays, lésbicas e robertas close já viraram arroz de festa, transexuais masculinos (que nasceram mulheres) pareciam quase uma quimera. Não são.
A seguir, as histórias dos dois homens em luta contra a própria natureza:

Reprodução
http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/797535-conheca-transexuais-que-farao-cirurgias-de-extirpacao-de-utero-ovarios-e-seios.shtml

Uso indiscriminado de colírios durante tempo seco

10/09/2010 - 15h03

Ministério da Saúde faz alerta contra uso indiscriminado de colírios durante tempo seco

O uso indiscriminado de colírios que ocorre sobretudo em períodos de baixa umidade como os têm sido registrados na maior parte do país pode provocar consequências sérias para a visão e até mesmo cegar a pessoa. O medicamento deve ser utilizado apenas quando prescrito por um especialista.
Danilo Verpa/Folhapress
 O uso indiscriminado de colírios durante o tempo seco pode provocar consequências sérias para a visão

De acordo com o Ministério da Saúde, os olhos, assim como a pele, são órgãos que ficam expostos e também sofrem com as mudanças climáticas. O calor e o tempo seco podem provocar sensações desconfortáveis como vermelhidão e irritação.
Entretanto, o uso de qualquer tipo de medicamento mesmo de lubrificantes oculares não é recomendado sem orientação médica. Os colírios com antibióticos, por exemplo, se utilizados de forma crônica e irregular, podem provocar mutações de bactérias, que se tornam mais resistentes ao remédio.
A orientação vale ainda para colírios que servem para clarear o branco do olho, já que um dos efeitos colaterais é o aumento da pressão arterial. Cremes e pomadas para os olhos também devem ser indicados por um especialista.
http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/796795-ministerio-da-saude-faz-alerta-contra-uso-indiscriminado-de-colirios-durante-tempo-seco.shtml

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Pouco sono, pouco sexo

Pouco sono, pouco sexo

Dormir pouco tem efeitos negativos sobre a sexualidade de humanos e roedores. Enquanto ratos reagem com perda de interesse sexual e impotência, fêmeas alternam entre maior receptividade, no período fértil, e rejeição agressiva, na ‘TPM’.
Por: Fred Furtado
Publicado em 28/08/2010 | Atualizado em 30/08/2010
 Em tempos de vida corrida, abre-se mão do sono para dar conta das outras atividades. Tanto em roedores quanto em pessoas, a conta pode ser paga pela vida sexual (Flickr.com/orangachang – CC BY-NC-SA 2.0). 

Nos dias de hoje, é cada vez mais comum que nós ocupemos nosso tempo com diversas atividades. Mas o dia só tem 24 horas, e quem paga a conta do tempo limitado que temos é o sono.
Só que dormir pouco tem efeitos adversos sobre a sexualidade – tanto de roedores quanto de humanos. Foi isso que o Grupo de Sono da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) mostrou na 25ª Reunião Anual da Federação das Sociedades de Biologia Experimental (Fesbe).

Ratos que foram privados de sono cronicamente apresentaram perda de desejo sexual e disfunção erétil, tornando-se incapazes de penetrar as fêmeas.
“Quando a restrição era pontual, apenas de uma noite, víamos um aumento da libido, mas eles ainda tinham prejuízo de desempenho sexual”, conta a biomédica Monica Levy Andersen, coordenadora do estudo.
Ela cita um estudo epidemiológico realizado em 2007 para fazer uma correlação com humanos. “O estudo revelou que 32,9% da população da cidade de São Paulo têm apneia [suspensão momentânea da respiração] enquanto dorme, o que pode interromper o sono em até 80 vezes por hora. Esse distúrbio aumenta em até três vezes a chance de disfunção erétil. Os dados revelaram que 17% dos paulistanos têm problemas de ereção”, relata Andersen.

Veja como as ratas reagiram às noites de pouco sono, ora mais receptivas, ora praticamente boxeando com o macho

A vez das fêmeas

Já nas ratas, a falta de sono intensifica a fase do ciclo estral (menstrual). Quando elas saíam de um período de privação de sono de quatro dias na fase fértil, ficavam ainda mais receptivas ao macho, demonstrando isso em sinais como o abanar das orelhas e o galope.
Quando saíam de dias com pouco sono na fase de rejeição – equivalente à da tensão pré-menstrual (TPM) –, ficavam extremamente agressivas com o rato, chegando até a boxear com ele e arquear o corpo para impedir a penetração.
“Fazer uma correlação com mulheres é difícil por uma série de fatores, como a abundância de hormônios. Mas medimos essas substâncias nas ratas e descobrimos que, na fase fértil, elas têm níveis muito baixos de progesterona, e na de rejeição, muito altos”, informa a biomédica, acrescentando que a progesterona deixa a rata sonolenta e ‘antimacho’.
Esse hormônio é um dos que regula a gravidez. Assim, alterações na sua quantidade podem ter efeito sobre a capacidade reprodutiva das mulheres. “Esse é um dado importante, já que hoje em dia muitas mulheres estão postergando o momento de ter filhos e também sofrem de privação do sono. Imagine o caso de uma comissária de bordo que faz três voos Rio-Tóquio por semana”, observa Andersen.
Para testar isso, o grupo da biomédica está iniciando um estudo no qual ratas dormem apenas seis horas por dia (o ciclo normal é de 12 horas) durante 21 dias. “Queremos ver se há alterações na gestação, diferenças nos recém-nascidos. Os resultados preliminares parecem indicar que os filhotes nascem com menos peso”, revela a biomédica.
Andersen completa dizendo que há vários outros efeitos da privação de sono sobre o corpo, que vão de sintomas como fadiga e perda de atenção até diminuição da resposta imune e alterações cardiovasculares.
“Os norte-americanos costumam dizer que vivemos em uma sociedade 24/7 – 24 horas por dia, sete dias por semana. Sempre sacrificamos nosso sono em vez de outra atividade, e isso pode causar sérios problemas”, alerta a biomédica.

Fred Furtado

Ciência Hoje/ RJ
http://cienciahoje.uol.com.br/noticias/2010/08/pouco-sono-pouco-sexo

Técnica melhora desempenho mental com corrente elétrica

05/09/2010 - 15h34

Técnica turbina desempenho mental com corrente elétrica

LUCIANO GRÜDTNER BURATTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O botão gira, a eletricidade corre. Gotas de um líquido salgado deslizam pelo pescoço. No começo, cócegas na cabeça. Em seguida, foco nos testes psicológicos. É o início de um experimento de estimulação cerebral por corrente elétrica contínua.
A técnica é capaz de melhorar o desempenho de pessoas saudáveis em tarefas cognitivas --envolvendo memória, tomada de decisões ou coordenação motora, por exemplo-- e pode facilitar a recuperação de vítimas de derrame ou depressão.
Montar um estimulador cerebral é simples e barato: basta obter um gerador de eletricidade movido a bateria (9 volts), ligar dois eletrodos aos polos positivo e negativo do gerador, fixar a outra ponta dos eletrodos a esponjas embebidas em solução salina e o kit está pronto.
Ao ligar o equipamento, parte da corrente é perdida, porque se desloca do eletrodo negativo ao positivo via pele, seguindo a rota de menor resistência elétrica.
Outra parte da corrente, porém, consegue atravessar o cérebro, modificando a atividade mental no seu caminho, principalmente nas áreas mais superficiais.
MEMÓRIA E AUTISMO
Conhecida como tDCS ("estimulação transcranial por corrente contínua", na sigla em inglês), a técnica foi recentemente utilizada em um teste de memória visual em que participantes precisavam distinguir entre imagens estudadas anteriormente e imagens não estudadas.
As não estudadas eram muito semelhantes às estudadas, o que gerava erros no teste, pois os participantes diziam que as tinham visto.
Os eletrodos-esponja foram fixados na parte da frente das têmporas nos dois lados da cabeça. Quando o lado esquerdo era estimulado e o direito inibido, a performance não diferia da condição controle (sem corrente).
Mas quando a polaridade era invertida (lado esquerdo inibido e direito estimulado), os resultados mostraram um expressivo aumento na proporção de respostas corretas.
Mais importante, a inibição do lado esquerdo fez com que os voluntários lembrassem melhor os detalhes das figuras, rejeitando as que se pareciam com as originais.
"É como se tivéssemos simulado um comportamento autista", afirma o brasileiro Felipe Fregni, neurocientista da Escola de Medicina de Harvard e coautor do estudo, aceito para publicação na revista "Brain Research".
Como as imagens semelhantes eram muito parecidas com as estudadas, a maioria das pessoas diz que as viu. Autistas, no entanto, apresentam um deficit nessa capacidade de generalização. "Em vez de categorizar informações, eles as mantêm separadas. Isso faz com que tenham uma capacidade de memorização mais literal."
O tDCS também revelou ser possível reduzir o apetite por risco em pessoas normais durante tomadas de decisão.
AVERSÃO A RISCO
Pesquisa liderada por Paulo Boggio, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, mostrou que indivíduos que normalmente escolheriam uma oferta de alto ganho com baixa probabilidade em um jogo de cartas passaram a preferir uma oferta de baixo ganho com alta probabilidade após uma sessão de tDCS, com eletrodos colocados na parte frontal e lateral da cabeça.
O estudo, publicado em 2007 no prestigiado periódico "Journal of Neuroscience", também mostrou que o comportamento mais conservador resultou em maiores ganhos no final do jogo.
"A abordagem poderia ser usada no tratamento de doenças que envolvem deficits na tomada de decisões ou na interpretação de recompensas, como no jogo patológico ou na anorexia nervosa", afirma Boggio.
DEPRESSÃO
A estimulação elétrica cerebral já está sendo aplicada, de forma experimental, no tratamento de depressão.
O psiquiatra André Brunoni, do Hospital Universitário da USP, está conduzindo uma pesquisa em que pacientes com depressão grave ou com baixa resposta a antidepressivos são submetidos a uma sessão diária de 30 minutos de tDCS durante dez dias consecutivos.
"A estimulação diária por uma ou mais semanas pode induzir mudanças de longo prazo na atividade cerebral", explica Brunoni. "Estamos estudando se a combinação de tDCS com o antidepressivo sertralina é mais eficaz que tDCS ou sertralina usados separadamente."
O estudo, financiado pela Fapesp (agência de fomento paulista), comecou em março e continua em andamento. Interessados em participar podem entrar em contato pelo e-mail pesquisacientificahu@gmail.com.

Editoria de Arte/Folhapress

 http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/794357-tecnica-turbina-desempenho-mental-com-corrente-eletrica.shtml

sábado, 4 de setembro de 2010

Nova droga contra o causador da malária

03/09/2010 - 09h54

Nova droga elimina resistência do parasita causador da malária

RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO

Uma nova droga promete acabar com a resistência a medicamentos dos parasitas da malária, mal que causa 800 mil mortes por ano.
A NITD609 teve efeito contra a doença em animais de laboratório e muito em breve será testada em humanos.
As drogas antimaláricas mais recentes são baseadas na planta artemísia, tradicional da medicina chinesa. Ela hoje é administrada em 100 milhões de pacientes anualmente, mas o parasita já desenvolve resistência.

 

Editoria de Arte/Folhapress

Os causadores da malária são seres de apenas uma célula, especialistas em evitar ataques: os plasmódios.
Uma fêmea de mosquito chupa o sangue da vítima e, no processo, inocula o parasita, que ataca células vermelhas do sangue e afeta um órgão vital: o fígado.
O estudo, publicado na "Science", checou 12 mil substâncias que combateriam um dos plasmódios, o Plasmodium falciparum.
Excluindo os que não eliminavam os parasitas resistentes e os tóxicos às células dos mamíferos, restaram 17.
Ao avaliá-los, sobrou uma substância que nunca havia sido associada à malária antes: a NITD609.
"A NITD609 se sobressaiu porque ela parecia diferente, em termos da estrutura e química, de todos os outros antimaláricos hoje usados", afirma Elizabeth Winzeler, do Instituto de Genômica da Fundação de Pesquisa Novartis em San Diego, uma das autoras do trabalho.
http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/793433-nova-droga-elimina-resistencia-do-parasita-causador-da-malaria.shtml