quinta-feira, 8 de abril de 2010

Cientistas encontram nova espécie de hominídeo

08/04/2010 - 18h18

Cientistas sul-africanos encontram nova espécie de hominídeo

REINALDO JOSÉ LOPES
da Reportagem Local
O nome da nova espécie de hominídeo foi escolhido a dedo: Australopithecus sediba. "Sediba" é "fonte" em sesotho, uma das principais línguas nativas da África do Sul, e resume a interpretação dos descobridores da criatura. Para eles, a espécie é a antecessora direta do gênero humano, o Homo do célebre nome científico Homo sapiens --e, portanto, ancestral de toda pessoa viva hoje.
Num campo tão disputado quanto o dos estudos sobre a evolução humana, uma afirmação desse naipe equivale quase sempre a mexer num vespeiro, e já há antropólogos contestando os "pais" do A. sediba, liderados pelo americano Lee Berger, da Universidade do Witwatersrand, na África do Sul.
Disputas à parte, os fósseis de 1,9 milhão de anos --dois indivíduos incompletos, um macho adolescente e uma fêmea adulta (veja vídeo abaixo)-- trazem novos dados sobre uma das fases mais importantes e confusas das origens do homem, quando o solo africano estava coalhado de espécies diferentes de macacos bípedes, quase todas candidatas a bisavós da humanidade.

Brett Eloff/Reuters

Dois desses bichos já conhecidos, o Homo habilis e o Homo rudolfensis, poderiam ser "rebaixados" a australopitecos graças aos novos fósseis, explicou Berger à Folha. "De fato, estamos sugerindo que o A. sediba é um melhor candidato a ancestral do Homo erectus [essa sim uma espécie que quase todo mundo considera membro da linhagem direta do homem], embora sejamos cuidadosos nessa interpretação. Isso significa que o mais adequado seria colocar o H. habilis no gênero Australopitechus", diz ele.
Os dentes pequenos e o quadril mais apropriado para longas caminhadas ou até corridas são a principal pista de que o A. sediba seria um ancestral direto do gênero Homo, argumentam os cientistas em artigo na revista especializada "Science".
De cinema
A história contada por Berger sobre a descoberta dos fósseis mais parece narrativa cinematográfica. O pesquisador, seu filho de nove anos, Matthew, e o cão da família, chamado Tau, prospectavam fósseis em cavernas perto de Johannesburgo, numa região já famosa pelos restos mortais de hominídeos. Matthew tropeçou e, ao levantar, tinha nas mãos uma clavícula "humana" --justamente o osso que o pai tinha estudado em seu doutorado.
A idade e a anatomia da criatura sugerem, para os pesquisadores, que se trata de um descendente do A. africanus, um hominídeo ainda mais antigo que habitou a mesma região entre 3 milhões e 2,4 milhões de anos atrás. "Esse material novo pode muito bem representar uma espécie que é descendente do A. africanus, de fato", concorda o britânico Bernard Wood, professor de origens humanas da Universidade George Washington (EUA).
Wood, porém, completa o raciocínio com uma ducha de água fria: "Para mim não está claro que ele tenha qualquer razão especial para ser considerado um ancestral do gênero Homo. Seus membros são pelo menos tão primitivos quanto os que vemos no A. africanus".
Outro problema, acrescenta Fred Grine, antropólogo da Universidade Stony Brook (EUA), é a idade. "A espécie é tardia demais [para ser ancestral do gênero Homo]. É pelo menos 300 mil anos mais nova do que a primeira ocorrência do H. habilis na Etiópia", diz.
Por outro lado, John Fleagle, também da Stony Brook, diz que o tempo não é tão importante assim. "A evolução humana nessa época era tão complexa que não dá para traçar uma árvore genealógica simples e linear. É perfeitamente possível que os 'ancestrais' sobrevivessem junto com seus descendentes. Imagine que algo como a nova espécie estivesse espalhado pela África há 2,5 milhões de anos. Então a parte norte dessa população evolui e se torna o H. habilis. A parte sul pode muito bem não ter mudado muito em 500 mil anos", diz Fleagle. "É uma descoberta incrível, e temos de dar crédito à perseverança do Doutor Berger, que continua a procurar fósseis por lá ano após ano."
http://www1.folha.uol.com.br/folha/videocasts/ult10038u718158.shtml

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