segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Insegurança à mesa

Insegurança à mesa – e na mídia




A divulgação na semana passada de uma pesquisa de conclusões alarmantes reavivou a polêmica sobre os transgênicos. Um estudo de longo prazo constatou que ratos alimentados com milho geneticamente modificado tratado com herbicida tiveram maior incidência de tumores. Apresentados na imprensa ora como sinal inequívoco do risco da biotecnologia, ora como fruto de um estudo discutível, os resultados deixam no ar a dúvida sobre como se posicionar num debate em que parece não haver opinião isenta.
O estudo que motivou a polêmica foi realizado pela equipe de Gilles-Eric Séralini, da Universidade de Caen, na França, e publicado no último dia 19 na revista Food and Chemical Toxicology. A variedade de milho transgênico usada na pesquisa – NK603 – é produzida pela Monsanto, que também fabrica o herbicida ao qual ela é resistente (Roundup), também testado no estudo. Duzentos ratos foram acompanhados ao longo de dois anos, praticamente o tempo de vida dessa espécie. Estudos anteriores se limitaram a monitorar os animais por poucos meses – a liberação da produção comercial desse milho em vários países (inclusive o Brasil) se baseou nos resultados desses trabalhos.
Os resultados relatados no artigo são preocupantes. Entre os animais alimentados com o milho transgênico, de 50% a 80% das fêmeas desenvolveram tumores – a taxa foi de 30% no grupo de controle, que ingeriu apenas milho convencional. Dentre os que comeram transgênicos, até 50% dos machos e 70% das fêmeas morreram antes do que se esperaria, diante da sua expectativa de vida; nos animais de controle, a taxa foi de 30% entre os machos e 20% entre as fêmeas. A lista de efeitos inclui ainda problemas de fígado e rim nos animais alimentados com transgênicos.
Na imprensa francesa, os resultados do estudo foram comprados por seu valor de face, ao menos num primeiro momento. O jornal Le Monde relatou os resultados sem grande questionamento. O caso mais emblemático foi o da revista semanal Le Nouvel Observateur, que não hesitou em dar à sua reportagem de capa sobre o tema o título “Sim, os transgênicos são veneno!” A matéria concluía que, “para os transgênicos, a era da dúvida se encerra e começa o tempo da verdade”.
A cobertura acrítica foi influenciada por uma estratégia discutível usada na divulgação do trabalho. Conforme é a praxe no jornalismo de ciência, alguns repórteres tiveram acesso antecipado ao artigo que relata os resultados do estudo. No entanto, em contraste com a maioria dos casos em que esse sistema é utilizado, os jornalistas tiveram que assinar um termo de confidencialidade se comprometendo a não compartilhar o estudo com outros especialistas, que poderiam oferecer alguma perspectiva crítica ao trabalho.
O blog Embargo Watch, ao discutir essa estratégia, comparou a estenógrafos os jornalistas que se submeteram a esse sistema. Ao comentar o caso em seu blog, o jornalista americano Carl Zimmer escreveu: “Esse é um meio repugnante e corrupto de escrever sobre ciência. Pega mal para os cientistas envolvidos, mas (...) também para a nossa profissão.”
Uma vez publicado o artigo, vieram à tona críticas de pesquisadores não envolvidos com o estudo. Em entrevista à agência Reuters, um cientista britânico questionou os métodos estatísticos usados na análise e lembrou que a variedade de ratos escolhidos para o estudo é especialmente propenso a desenvolver o tipo de tumores observado no estudo.
Em reportagem do New York Times, o especialista em ciência alimentar Bruce Chassy estranhou que nenhum efeito similar tenha sido observado nos animais que se alimentam de transgênicos há anos. “Não se trata de uma publicação científica inocente”, acusou. “Trata-se de um evento de mídia bem planejado e habilmente orquestrado”.
Séralini foi criticado também por lançar o estudo na mesma época em que põe nas livrarias o livro Tous Cobayes! (‘Todos cobaias!’), em paralelo ao lançamento de um documentário homônimo dirigido por Jean-Paul Jaud.
Na América Latina, a cobertura foi acrítica, segundo apontou análise do KSJ Tracker. No Brasil, os três maiores jornais diários não têm em seus sites notícias sobre o estudo. Na cobertura dos portais na internet, baseada principalmente em despachos de agências noticiosas internacionais, as críticas feitas ao estudo nem sempre foram lembradas.
Entidades brasileiras alinhadas com a defesa dos transgênicos, como o Conselho de Informação de Biotecnologia, questionaram a credibilidade da pesquisa. Já o biólogo Jean-Remy Davée apresentou o estudo como um divisor de águas do debate sobre a segurança dos transgênicos em sua coluna na Ciência Hoje On-line. O colunista citou as principais críticas ao estudo e concluiu que “não existem publicações inocentes, nem cientistas inocentes. A não ser, talvez, aqueles que creem que as indústrias nos contam tudo sobre seus produtos, não compram apoios científicos, políticos e midiáticos e não tentam calar os eventuais dissidentes”.
Foram poucos os relatos que apresentaram a reação dos autores às críticas. Num blog do Guardian, John Vidal sistematizou as respostas de Séralini aos principais questionamentos. O líder do estudo alegou que o tipo de ratos usado na pesquisa é o mesmo empregado nos outros estudos sobre o impacto dos transgênicos e se dispôs a trazer a público os dados brutos de seu estudo – desde que a Monsanto faça o mesmo com os resultados dos estudos que levaram à liberação do milho NK603 na Europa.
O estudo foi publicado num periódico respeitado e submetido à avaliação por outros cientistas da área. À Nature, o editor da Food and Chemical Toxicology alegou que o trabalho não suscitou alerta especial durante a revisão.
A divergência de pontos de vista “autorizados” sobre uma questão sensível como a dos transgênicos é frustrante, especialmente para o leigo. Num debate em que as partes envolvidas parecem todas ter uma agenda bem definida, mas nem sempre transparente para o público, é complicado saber que credibilidade dar a cada argumento.
Nesse ambiente de incerteza, é saudável a notícia de que o estudo vai ser auditado pela Autoridade Europeia de Segurança Alimentar e por outras agências, conforme anunciado no auge da polêmica. Que se concorde ou não com o estudo, seus métodos e resultados, parece razoável apoiar a recomendação final do artigo, em que os autores propõem que transgênicos usados na alimentação e os pesticidas sejam “avaliados muito cuidadosamente por estudos de longo prazo para medir seus efeitos tóxicos”.
(foto: Ian Hayhurst – CC 3.0 BY-NC-SA)
 http://revistapiaui.estadao.com.br/blogs/questoes-da-ciencia/geral/inseguranca-a-mesa-e-na-midia

8 comentários:

Anônimo disse...

Mair Porto , Ceaat 3°A
Os alimentos transgênicos são geneticamente modificados com a finalidade de melhorar a qualidade aumentando assim a produção e a resistencia ás pragas . E não é isso que vem acontecendo. Experiencias feitas com ratos que foram alimentados com milhos transgenicos mostram maior incidência de tumores .

Unknown disse...

Lorena Santana
Muitos se falam em clonagem, mutação genética e alimentos transgênicos, poucos se sabem a respeito de tais assuntos uma forma em que os alimentos são modificados é algo preocupante, pois a falta de informação sobre tais alimentos modificados pode causar um impacto na produção. O risco a saúde são grandes, como vimos na pesquisa ratos feitos de cobaias desenvolveram tumores ao ingerirem tais alimentos, apesar de alguns afirmarem que os transgênicos são seguros outros estudos registraram o aparecimento de alergias provocadas pelo consumo desses alimentos.

Unknown disse...

ADAUTO CABRAL 4ºAI(VESP.)

OS TRANSGÊNICOS QUE SURGIRAM COMO UMA FORMA DE SE PRODUZIR MAIS ALIMENTOS EM UMA ÁREA MENOS DE PLANTIO E ALIMENTOS MAIS RESISTENTES A DOENÇAS, TEM SE MOSTRADO UM GRANDE PERIGO PARA A SAÚDE HUMANA.
EM ALGUNS PAÍSES COMO O JAPÃO REJEITAM A ENTRADA DESSE TIPO DE ALIMENTO EM SEU TERRITÓRIO,OS PRINCIPAIS PRODUTORES DESSE TIPO DE CULTURA SÃO E.U.A BRASIL CHILI E ÍNDIA.

Milena disse...

É preocupante saber que a modificação de alguns alimentos com a finalidade de melhorar a qualidade não venha a ter um bom resultado e venha causar prejuízos a saúde.




Milena dos Santos Melo 3° AI Vespertino CEAAT.

Milena disse...

OS ALIMENTOS TRANSGÊNICOS FORAM CRIADOS COM A FINALIDADE DE MELHORAR A QUALIDADE DE VIDA DAS PESSOAS, MAIS INFELIZMENTE ESTÃO PREUJUIDICANDO A NOSSA SAÚDE.





isabela oliveira dos santos 3° ai vespertino ceaat

Anselmo Oliveira 3° A disse...

Alimentos Geneticamente Modificados: são alimentos criados em laboratórios com a utilização de genes (parte do código genético) de espécies diferentes de animais, vegetais ou micróbios.
Organismos Geneticamente Modificados: são os organismos que sofreram alteração no seu código genético por métodos ou meios que não ocorrem naturalmente.
Mas, estes mesmos trazem prejuizos a saude humana como por exemplo,Aumento das reações alérgicas;
- As plantas que não sofreram modificação genética podem ser eliminadas pelo processo de seleção natural, pois, as transgênicas possuem maior resistência às pragas e pesticidas.

http://genpeace.blogspot.com disse...

De: Paulo Andrade andrade@ufpe.br Departamento de Genética/UFPE

Sugerimos que os leitores consultem os comentários postados abaixo para maiores esclarecimentos sobre a falta de bases e os gravíssimos erros experimentais do trabalho publicado (ainda apenas online, esperamos sinceramente que a revista se retrate e retire o artigo da forma impressa), e que esqueçam a questão de ataque pessoal, que pode existir, mas não é o que move as críticas técnicas e científicas que agora circulam.
http://genpeace.blogspot.com.br/2012/09/artigo-que-mostra-o-surgimento-de.html
http://genpeace.blogspot.com.br/2012/09/artigo-sobre-efeito-de-milho.html
http://genpeace.blogspot.com.br/2012/10/pesquisadores-brasileiros-assinam.html
http://genpeace.blogspot.com.br/2012/10/the-largest-experiment-with-human.html

Box Of Fellings disse...

CEAAT- Mª Klara de L. Amoras -Iº AI Vespertino.

Como a postagem relata , os transgênicos surgiram como uma forma de se produzir alimentos mais ressistentes as doenças. Só que, ultimamente tem se mostrado um grande perigo para a nossa saúde. Sendo assim, gerando grandes preucupações .