sábado, 3 de abril de 2010

Chocólatras, vejam os benefícios e riscos associados a essa guloseima.

Só quero chocolate

Não deixe de saborear seu ovo de Páscoa. Mas, se você é chocólatra de carteirinha, veja o que especialistas têm a dizer sobre os benefícios e riscos associados a essa deliciosa guloseima

03 de abril de 2010 | 16h 00

Você já refletiu sobre qual é a sua reação após saborear um pedaço de chocolate? Para enorme parte das pessoas, a sensação é muito mais do que a de simples saciedade: vem acompanhada também de relaxamento, prazer e sentimento de felicidade. Isso teria um preço para a saúde? Especialistas divergem sobre prós e contras do chocolate. Mas concordam em um ponto: vale a regrinha do consumo moderado.
 Alex Silva/AE
Ayme. A médica diz que chocolate é sua fonte de energia para trabalhar

Um relatório apresentado pela Associação de Cardiologia dos Estados Unidos sustenta que o chocolate ajuda a reduzir os riscos de ataque cardíaco e diminui a tendência de coagulação das plaquetas e de obstrução dos vasos capilares. "Embora sejam comprovados os seus benefícios para prevenir doenças cardiovasculares, é importante ressaltar que o consumo deve ser em pequenas quantidades, uma vez que contém gordura saturada e açúcar que, em excesso, podem ser nocivos à saúde", afirma Daniel Magnoni, cardiologista e nutrólogo do Hospital do Coração.
O brasileiro parece não moderar o consumo. Segundo a Abicab (Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados), em 2008, a produção do País atingiu 300 mil toneladas. Isso garantiu ao Brasil o posto de quarto maior produtor de chocolates do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, Alemanha e Inglaterra.
O médico psiquiatra Arthur Kaufman, coordenador do Prato (Programa de Atendimento ao Obeso), do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, afirma que há diferenças entre uma pessoa que gosta de chocolate e outra que se diz viciada na guloseima. "Quem não consegue ficar um dia sem comê-lo, mas não ultrapassa 30 gramas, tem um hábito saudável", afirma. "Agora, se a pessoa come 300 gramas por dia, é viciada ou compulsiva."
Prazer e culpa. Para o médico, nem todo chocólatra é compulsivo, mas ambos apresentam um problema. "Uma situação de estresse desencadeia um desejo incontrolável para o compulsivo. Ele só vai parar de comer após devorar tudo", assegura. "O viciado, porém, passa o dia beliscando, até se dar conta de que não resta mais nada", compara. Outra diferença entre ambos, acrescenta, é que o primeiro, na maioria das vezes, sente um prazer indescritível de imediato, seguido de uma grande culpa logo depois.
A médica Ayme Carboni, de 30 anos, tem uma rotina exaustiva de trabalho e admite que o chocolate, além de lhe garantir energia, causa uma extrema sensação de prazer. "Não adianta comer qualquer outro doce. Só o chocolate me sacia", revela. "Por outro lado, fico saciada com um bombom de 30 gramas na sobremesa do almoço e outro no fim da tarde. Essa quantidade já é suficiente para eu me sentir bem", afirma Ayme, que, por causa de uma promessa, passou 30 dias sem chocolate. "Foi desesperador. Por mais que tenha um consumo controlado, me senti muito mal. Era como se tivesse em crise de abstinência", lembra.


Irina. Só se satisfaz quando a caixa está vazia

A estudante de desenho industrial Irina Serrano, de 22 anos, diz que seu vício pelo chocolate começou na infância, com a dupla leite e achocolatado. Porém, há muitos anos, a bebida deixou de ser suficiente. "Não vivo sem um bombom", relata ela, que come, no mínimo, dois chocolates por dia. "Se vejo uma caixa aberta, vou comendo aos poucos até a embalagem ficar vazia."
Para a nutricionista Karyna Pugliese, da Clínica Dr. José Bento de Souza, cortar de uma vez o chocolate da dieta pode piorar o quadro. "Eu digo às pacientes que a total privação tende a intensificar o desejo pelo doce e o resultado pode ser trágico", afirma.
Chocolate e TPM. Alguns estudos apontam que mulheres consomem mais chocolate por causa das flutuações hormonais. Na fase pré-menstrual, com a alteração nos níveis de estrógeno e progesterona, a serotonina fica mais baixa, o que levaria a uma maior busca por doces e alimentos palatáveis.
Para o ginecologista e obstetra José Bento de Souza, especialista em Reprodução Humana, a mulher, no período pré-menstrual, sofre com o desequilíbrio dos neurotransmissores e também com o excesso de insulina que circula na corrente sanguínea. "E o triptofano presente no chocolate - uma das substâncias precursoras da serotonina (responsável pela sensação de bem-estar) - ajudaria a equilibrar esses neurotransmissores e também controlaria a produção excessiva de insulina", justifica. "É essa reação química que deixa a mulher mais calma", afirma o ginecologista, que indica uma porção de 30 gramas de chocolate meio amargo no período que antecede a menstruação.
Vale lembrar que os chocolates amargos e meio amargos têm mais cacau, e menor teor de açúcar e gordura. Por isso, costumam ser mais recomendados do que os outros tipos.
No entanto, para o ginecologista e obstetra Alberto D’Auria, diretor do Grupo Santa Joana de Maternidade, é exatamente na TPM que a mulher deve evitar chocolate, café e refrigerantes à base de cola. O médico, que investigou o comportamento feminino nessa fase durante cinco anos, diz que a teobromina, uma substância da família da cafeína, piora o quadro da TPM, principalmente no que diz respeito à retenção de líquido e à irritabilidade.
"A sensação de prazer é tão fugaz e transitória depois de comer o chocolate que, em poucos minutos, há novamente a queda da serotonina e a mulher volta ao estágio anterior."
D’Auria diz que praticar exercícios físicos é a melhor forma de liberar serotonina e endorfina durante a TPM. "Porém, a partir do primeiro dia da menstruação, tanto uma porção pequena de chocolate - de preferência, amargo ou meio amargo - como o cafezinho são bem-vindos", acrescenta. "Nessa fase, a cafeína (também presente no chocolate) melhora a imunidade e o sistema cardiocirculatório, e protege o cérebro."
DEPENDÊNCIA SÓ PSICOLÓGICA
As nutricionistas Samantha Macedo e Cristiane Cedra, ambas da Equilibrium Consultoria em Nutrição e Bem-Estar, afirmam que, apesar de não existir nenhuma comprovação científica de que o chocolate cause dependência, percebe-se que algumas pessoas, diante da privação do consumo, apresentam reações psicofarmacológicas iguais às do vício.
"Pesquisadores da Universidade de Tampere, na Finlândia, observaram que as pessoas que demonstram um desejo incontrolável pelo chocolate possuem padrões alimentares irregulares e humores variáveis, além de níveis de salivação e ansiedade fora dos padrões, quando não consomem a guloseima", afirma Cristiane Cedra.
Segundo o psiquiatra Arthur Kaufman, pacientes com essas características têm tendência à depressão. "Precisam de ajuda médica, nutricional, psicológica e, muitas vezes, psiquiátrica, com o uso de medicamentos para conter a ansiedade." Para o médico, é preciso que o paciente descubra outras formas de prazer.
Porém, Kaufman destaca que, ao contrário do cigarro, do álcool e de outras drogas, o chocolate não causa dependência biológica. "A pessoa pode apresentar sintomas de uma dependência psicológica, mas não física", acredita o médico.

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